sábado, 9 de março de 2013

Reflexões sobre a Igreja (2)


Ó Pai, somos nós o povo eleito que Cristo veio reunir!

Na liturgia da epifania, ou revelação do amor de Deus a todos os povos e culturas, Paulo nos lembra que pagãos e todos os povos e culturas "são chamados a participar da mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa" (Ef 3,6). E o evangelista Mateus expressa essa convicção mediante a estrela que guia os magos (estrangeiros e pagãos) ao encontro de Jesus. O povo eleito em Jesus Cristo não exclui ninguém e congrega gente de todas as culturas, condições econômicas e nacionalidades.
Há cinquenta anos, no Concílio Vaticano II, a Igreja católica refletiu sobre sua identidade e sua missão no mundo. Percebeu que sua inspiração fundamental não vem das sociedades ou organizações políticas e sociais e sim do próprio Deus: ela é o novo povo de Deus, o corpo vivo de Cristo na história, o templo do Espírito Santo. A natureza e a missão da Igreja estão relacionadas com a Santíssima Trindade!
A Igreja é o novo povo de Deus. Ela está intimamente relacionada com Deus Pai e criador. O povo de Israel, animado e conduzido por Moisés pelo deserto, advertido e orientado pelos profetas, formado por diferentes grupos de pobres e marginalizados, testemunha do amor de Deus pelos pobres e pequenos, missionário desse amor entre os outros povos, é uma espécie de figura ou símbolo que antecipou o que seria a Igreja nascida a partir de Jesus Cristo.
Quando dizemos que a Igreja é o novo povo de Deus queremos destacar que ela começa acolhendo e reunindo as pessoas que eram excluídas pelo judaísmo: os doentes e os pobres, os estrangeiros, as crianças, as mulheres, os pecadores, etc. A Igreja inteira (clero, religiosos/as e leigos/as) é chamada a ser povo, e não uma sociedade elitista e fechada em si mesma. Enquanto povo, a Igreja também é chamada a se inserir no mundo, na história, nas lutas dos homens e mulheres concretos. E como povo de Deus, a Igreja se entende peregrina, em processo de realização e de permanente conversão.
A Igreja é o corpo de Cristo. É um corpo vivo e histórico, encarnado no mundo. Reúne num mesmo nível de dignidade homens e mulheres de todos as condições, tempos, raças e povos. Está subordinada a Cristo, que é sua cabeça. Prolonga criativamente as ações e o anúncio de Jesus Cristo nos diversos tempos e lugares.
Quando dizemos que a Igreja é corpo de Cristo na história, queremos enfatizar que ela é formada por diferentes membros, ministérios e funções que compartilham do mesmo Espírito e atuam de modo complementar e em função de todo o corpo. Paulo ensina que neste corpo nenhum membro, ministério ou função pode ser desprezado ou supervalorizado. Esta visão questiona a realidade atual de nossas comunidades eclesiais, onde os ministérios e funções dos/as leigos/as são menos valorizados que o trabalho dos padres e bispos...
A Igreja é templo do Espírito Santo. É o lugar e o espaço onde o Espírito Santo é acolhido, faz-se presente e age de modo mais denso e sensível. Nesta comunidade humana chamada Igreja o Espírito desperta a palavra animadora, a ação profética, a comunhão fraterna, a liberdade autêntica, a vida abundante. Assim, a Igreja é o grupo de homens e mulheres reunidos na memória de Jesus e recriados pelo Espírito para continuar criativamente sua missão.
Quando dizemos que a Igreja é o templo vivo do Espírito Santo, queremos sublinhar que ela é chamada a viver a santidade de Jesus, ou seja, sua plena liberdade e capacidade de sempre buscar o maior bem de todas as pessoas. Ela existe para recriar nos tempos atuais a palavra e as ações de Jesus Cristo, evitando que os cristãos sejam como papagaios e macacos, que apenas repetem as palavras e gestos dos outros, sem nenhuma criatividade e atualização.
Itacir Brassiani msf

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