domingo, 10 de março de 2013

Reflexões sobre a Igreja (3)


Senhor, que queres que eu faça?

No segundo domingo do ano, a liturgia da Igreja nos convida a acolher a boa notícia de Jesus que se revela no casamento de Caná. Sua atitude de atenção e disponibilidade diante das frustrações e necessidades humanas interpela e orienta a Igreja em sua missão. Diante das muitas e graves necessidades humanas e para que haja vida abundante, Maria ensina que a Igreja precisa fazer aquilo que Jesus manda.
Para que existe a Igreja? O que se espera que ela faça no mundo? Para que existem e qual é a missão das nossas comunidades cristãs? A Igreja existe, antes de tudo, para ser sinal e instrumento do Reino de Deus, sinal e instrumento da unidade do gênero humano. Trata-se de tornar clara e visível a dignidade e a união de todos os seres humanos e de empenhar-se na construção de um mundo justo, solidário, pacífico e fraterno, como o próprio Jesus Cristo fez. E isso a Igreja fará mediante sua pregação, suas celebrações e suas ações.
A missão da Igreja é anunciar o Reino de Deus. No seu tempo e a seu modo, Jesus anunciou aos seus contemporâneos que o Reino de Deus não era mais uma promessa para o futuro, mas uma realidade presente. E o conteúdo concreto e histórico do reino de Deus era a saúde para os doentes, a libertação para oprimidos, a acolhida aos pecadores e estrangeiros, enfim, o resgate da vida plena para todos os seres humanos. Mas Jesus não quis fazer isso sozinho: ele chamou discípulos e discípulas e os enviou a proclamar esta mesma alegre boa notícia (cf. Mt 10,7).
A missão de anunciar o Reino de Deus confiada à Igreja implica hoje três aspectos. O primeiro aspecto é um anúncio que desperte e forme nos membros da Igreja e na sociedade em geral a convicção de quem um outro mundo é possível e precisa ser construído. O segundo aspecto é a denúncia profética e corajosa de todos os mecanismos e instituições que se opõem a um mundo justo e fraterno e que provocam opressão, marginalização e exclusão. O terceiro aspecto é o testemunho desse mundo novo no jeito de viver, de se relacionar e se organizar no interior das próprias comunidades e da Igreja como um todo.
A missão da Igreja é celebrar o Reino de Deus. Jesus sempre demonstrou alegria e encantamento diante dos pequenos ou grandes sinais do Reino que ele anunciava: a abertura dos simples e humildes à novidade do Reino; a força e a generosidade da semente que germina e se multiplica; a acolhida e conversão dos pecadores; a partilha de um copo de água ou um pedaço de pão; a cura e libertação dos doentes e possessos; etc. Ele mesmo, estando próximo o momento da doação maior, celebrou, mediante os ritos da páscoa dos hebreus, o significado e a força deste gesto.
A missão de celebrar o Reino de Deus é também confiada à comunidade dos discípulos e discípulas, à Igreja. À luz do fato maior que é a vida, morte e ressurreição de Jesus, a Igreja tem a missão de celebrar todas os sinais de amor, doação, conversão, melhoria, crescimento e transformação do mundo. E o faz através das celebrações dos sacramentos, da Palavra, e das bênçãos e orações. Isso implica em dar destaque, nas diversas liturgias, à memória das lutas e vitórias dos pobres e oprimidos. Por isso, as celebrações devem evitar a legitimação dos poderosos e seus interesses e se vincular às esperanças e necessidades populares.
A missão da Igreja é realizar o Reino de Deus. Jesus não se deteve no anúncio e na celebração da chegada do Reino. Sua vida se caracteriza pela ação eficaz e demonstrativa de que um outro mundo não era apenas possível, mas se realizava em suas ações incansáveis e libertadoras.
A Igreja tem a missão de fazer do Reino de Deus uma realidade histórica. Para isso ela precisa se organizar em diferentes pastorais e serviços. Tais pastorais e serviços têm como objetivo resgatar e promover a vida dos diferentes grupos e realidades humanas: crianças, jovens, idosos, agricultores, dependentes químicos, doentes, operários, etc. Sem essa dimensão de ação, a missão da Igreja cairia no vazio e perderia sua credibilidade.
Itacir Brassiani msf

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