terça-feira, 12 de março de 2013

Reflexões sobre a Igreja (5)


"Somos gente nova vindo o amor, somos comunidade, povo do Senhor!"
Nossas comunidades cantam com entusiasmo: "Somos gente nova vivendo a união, somos povo-semente da Nova nação. Somos gente nova vivendo o amor, somos comunidade, povo do Senhor!" E isso nos lembra uma dimensão essencial da Igreja: a sua estrutura comunitária.
A Igreja é e está antes de tudo comunidade. E falar em comunidade é falar de relacionamento vivo e personalizado, de pessoas que têm algo ou muito em comum. A comunidade é uma rede de relacionamentos que evita que as pessoas se percam na massa anônima. É também um meio para superar o individualismo que tende a fechar as pessoas em si mesmas e seus interesses. Para que haja comunidade é preciso haver um mínimo de comunhão nos ideais, nas experiências e nas ações. Não pode faltar também algum tipo de comunhão de bens.
Mas para ser Igreja não é suficiente ser comunidade. Os interesses que agrupam uma comunidade podem ser diversos. Para ser Igreja, uma comunidade precisa se reunir em torno da memória de Jesus Cristo, de seu projeto e da sua prática. Quando o seguimento de Jesus Cristo é a razão de ser e a meta de uma comunidade, então ela se torna eclesial, é Igreja. É claro o seguimento de Jesus não se resume em dizer-se cristão, em ser batizado, aceitar a doutrina desta ou daquela Igreja: trata-se de continuar criativamente a ação e a proposta de Jesus na sociedade e no mundo de hoje.
As comunidades eclesiais não são toda a Igreja. Existem realidades e dimensões da Igreja que não estão presentes de forma visível nas comunidades. Existem organismos, ministérios e serviços que só existem em âmbito maior. Mas isso não significa dizer que as comunidades são apenas "uma parte pedaço da igreja". Assim como o pedaço do pão eucarístico não é apenas uma parte de Jesus Cristo, a comunidade eclesial não é simplesmente uma parte da Igreja.
É na comunidade eclesial que se encarna e torna visível a solidariedade cristã. O amor fraterno não pode ser vivido de forma universal e abstrata; ele toma forma e corpo nas relações interpessoais dos membros de uma comunidade. Por mais localizadas e limitadas que sejam estas formas de amor, são sua fisionomia e sua carne. São também as pequenas comunidades eclesiais as que, via de regra, são capazes de perceber as necessidades dos pobres e marginalizados e suscitar iniciativas de apoio às suas lutas e socorro às suas necessidades.
É na comunidade que se pode celebrar vivamente a memória de Jesus Cristo. É verdade que é possível também celebrar em grandes templos ou praças, reunindo e animando multidões. Mas a celebração da vida, morte e ressurreição de Jesus supõe adesão pessoal a ele, aprofundamento desta adesão na comunidade, partilha e comunhão de vida e experiências, coisas que muito dificilmente estão presentes numa multidão anônima.
É também na comunidade que a Palavra de Deus encontra eco e ressonância. Esta Palavra nasceu no ventre da comunidade de fé. Por isso, na comunidade é resgatado o sentido original e atualizado da Palavra de Deus. Mais que nos estudos e cursos, é no ambiente de busca comunitária que a Palavra de Deus vai se fazendo carne e profecia, encorajando os medrosos, suscitando profetas e profetizas.
As paróquias, dioceses e a sede romana (com ou sem Papa), juntamente com seus organismos, serviços e estruturas, permanecem importantes e até necessárias, mas precisam se colocar a serviço da vida das comunidades. Sem a vitalidade das comunidades, a Igreja propriamente não existiria e estes organismos não passariam de estruturas estéreis e mortas.
Itacir Brassiani msf

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