quarta-feira, 13 de março de 2013

Reflexões sobre a Igreja (6)


"Eu vou colocar o que aprendi a serviço do povo!"

 No evangelho do segundo domingo de fevereiro Lucas nos contava o primeiro encontro de Pedro, Tiago e João com Jesus. Foi nas margens do lago de Genesaré, depois de uma noite de trabalho frustrado (cf. Lc 5,1-11). Entrando na barca deles, Jesus ensinou a "pescar diferente" e terminou convocaando-os para um outro trabalho: deixar os barcos e as redes e trabalhar para reunir pessoas. E eles deixaram o que sabiam fazer e seguiram Jesus pelas estradas da Galiléia. Esta é uma boa inspiração para refletir sobre os diversos ministérios e vocações na Igreja, especialmente em tempos de Conclave.
A Igreja é uma assembléia de pessoas chamadas e convocadasA palavra "Igreja" é a tradução da expressão grega "ekklesia" que dá nome à ação de convocar as pessoas para uma assembléia. Este detalhe nos ajuda a compreender que a Igreja é uma assembléia de pessoas chamadas e convocadas. Todos os membros da Igreja deveriam sentir-se chamados e convocados por Deus para tomar parte ativa na sua missão. O hino vocacional do ano 2002 dizia: "O batismo que eu recebi numa fonte de divino amor, foi o início de uma relação com Deus. Enxertado no seu coração, já sou parte deste povo irmão: assembléia de chamados e de convocados para ser feliz."
Assim foi a Igreja da primeira geração. Os cristãos fizeram a experiência de uma convocação para sair de si mesmos e das malhas dos sistemas religiosos e políticos que os aprisionavam e a participar de um movimento que os tornava livres na ação de transformar o mundo. Deste modo, entravam para a comunidade com a clara compreensão de que eram chamados a se engajar numa missão que contava com os dons de cada um. Na comunidade cristã, cada um tinha um lugar insubstituível. Sentiam-se como pedras vivas da construção de Deus (cf. 1Pd 2,5).
Durante sua vida histórica, Jesus havia chamado discípulos e discípulas e outros o seguiram espontaneamente. Mais tarde, o próprio Jesus escolheu um grupo de doze Apóstolos entre os discípulos e discípulas. Entretanto, ao ser morto, Jesus não deixou uma Igreja organizada em termos de ministérios e serviços.
Os apóstolos e comunidades criaram ministérios.  Eles realizaram tarefa de forma criativa, a partir das necessidades que surgiam e sob a inspiração do Espírito Santo. Foi assim que, diante da necessidade de auxiliar as viúvas pobres e estrangeiras e de inculturar a fé, eles instituíram os diáconos. Mais tarde, frente à necessidade de uma coordenação comunitária das Igrejas locais, eles instituíram os presbíteros. E mais tarde ainda, quando sentiram a necessidade de supervisores mais gerais, estabeleceram os bispos. E fez isso mesmo que Jesus não tenha criado tais ministérios.
Mas ao lado destes ministérios mais reconhecidos, as comunidades cristãs criaram ou acolheram uma enorme gama de ministérios: dirigentes de comunidades, catequistas, conselheiros, curadores, doutores, profetas, missionários, etc. Estes diversos ministérios e serviços estavam perfeitamente integrados no interior das comunidades, e não acima ou fora delas. Todos convergiam para a realização da missão do povo de Deus.
A Igreja católica precisa redescobrir sua natureza, que é ser uma assembléia de pessoas chamadas, cada qual com seu dom e seu serviço. O que existe de comum entre os ministérios ordenados e os ministérios dos leigos é muito mais importante e fundamental do que as diferenças. As comunidades desejam, e com razão, a inserção dos bispos, padres e diáconos na vida das comunidades. A igualdade e a complementaridade dos diversos ministérios precisa ser mais evidenciada. Dando atenção às necessidades concretas das comunidades e do povo, a Igreja deverá saber suscitar ministérios e serviços que ajudem a tornar viva e frutuosa sua missão de ser sinal e instrumento do Reino de Deus, da vida plena para todos.
Itacir Brassiani msf

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