quinta-feira, 14 de março de 2013

Reflexões sobre a Igreja (7)


"Vai trabalhar pelo mundo a fora..."
No dia 14 de fevereiro o calendário nos traz à memória São Cirilo e São Metódio, apóstolos e missionários do século IX que evangelizaram os povos eslavos; eles são considerados, junto com São Bento, padroeiros da Europa. No Evangelho de Lucas (cf. 4,14-21) Jesus resume seu anúncio proclamando que a felicidade pertence aos pobres, aos que têm fome, aos que choram e aos que são perseguidos. Estes fatos nos incitam a refletir sobre a dimensão missionária da Igreja.
Mas devemos começar lembrando que a consciência missionária nem sempre foi cultivada na Igreja católica. Depois do despertar missionário sustentado pelos religiosos no século XVI, passaram-se dois séculos antes que a Igreja européia despertasse para essa dimensão. Em 1880 o Papa Leão XIII lamentava que, naquela época, 7/8 da humanidade ainda não conhecia Jesus Cristo, e incentivava a criação de organismos missionários para enviar agentes aos países não cristãos.
Mas foi durante o Concílio Vaticano II que a Igreja católica ampliou sua visão de missão. Ela não se entende mais como uma Igreja que tem missões e organismos missionários, mas como uma Igreja missionária. Inspirado pelo Concílio, João Paulo II sublinhou e repetiu à exaustão que ou a Igreja é missionária ou não é Igreja de Jesus Cristo.
A missão começa em nossas comunidades. Uma comunidade cristã não esgota seu objetivo na catequese, nas celebrações e nas diversas iniciativas de serviço pastoral. Para ser cristã, a comunidade precisa ampliar o se horizonte e assumir o desafio de enviar pessoas que se dedicam ao Evangelho de Jesus Cristo nas situações humanas de maior necessidade, perto ou longe. O mesmo vale para as paróquias e dioceses. O engajamento missionário é causa e não apenas conseqüência do amadurecimento de uma comunidade, paróquia ou diocese.
Como podemos entender a missão hoje? A missão da Igreja consiste, antes de tudo, em sair de si mesma, deixar de pensar só em suas necessidades, deixar de agir como se fosse o centro de tudo. E isso acontece na medida em que a comunidade, paróquia ou diocese toma consciência da necessidade de levar a boa notícia da salvação a todas as pessoas, estejam geograficamente perto ou longe.
Uma primeira esfera da missão é a encarnação do Evangelho na cultura, na sociedade e na política, transformando as estruturas e abrindo caminhos de justiça, comunhão e participação. Trata-se de atuar de forma evangélica e transformadora nas organizações da sociedade, apoiando a luta dos oprimidos e marginalizados em vista de uma sociedade mais justa e democrática.
Uma segunda esfera da missão é a ajuda às Igrejas que ainda não têm muita vitalidade ou a perderam. Aqui se trata de partilhar agentes evangelizadores com outras comunidades, paróquias ou dioceses a fim de desenvolver a fé cristã do povo e apoiar a formação de comunidades eclesiais de base.
Uma terceira esfera é a missão é além-fronteiras, junto aos povos não cristãos. Aqui a missão representa um desafio maior e mais complexo. Nesta esfera, para não ser discriminadora ou dominadora, a missão deve se basear no serviço, no testemunho, no diálogo e, finalmente, no anúncio. Sem estas atitudes básicas, a missão pode mais atrapalhar que ajudar a adesão a Jesus Cristo. E o anúncio essencial é este que Jesus apresenta no Evangelho de hoje!
Itacir Brassiani msf

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