sábado, 16 de março de 2013

Reflexoes sobre a Igreja (9)


"Vosso povo é santo, mas também é pecador!"

Para os cristãos, a quaresma representa um convite contundente à conversão. O profeta Joel pede para mudar o coração e não apenas as roupas (cf. 2,13). Paulo suplica, em nome de Cristo, que nos reconciliemos com Deus (cf. 2Cor 5,20). Ressoa forte a advertência que o tempo próprio da conversão e da salvação é hoje. Neste clima quaresmal, podemos levantar algumas questões: são apenas os cristãos como indivíduos que erram e são chamados à conversão, ou também a Igreja como um todo erra e precisa de perdão? A Igreja enquanto tal pode pecar?
A resposta não é simples, mas quem não lembra o gesto eloqüente de João Paulo II no Jubileu do ano 2000, quando pediu perdão à humanidade pelas pecados cometidos pela Igreja? Alguns teólogos se apressaram em esclarecer que o Papa pedia perdão pelos pecados dos cristãos, e não pelos pecados da Igreja. Mas tais pecados não foram cometidos pelos cristãos à revelia da Igreja, mas por fidelidade aos seus ensinamentos. E o Papa pediu perdão na condição de responsável pela Igreja, em nome dela...
A bela e inspirada Oração Eucarística n° V termina com estas palavras: "E a nós, que agora estamos reunidos e somos povo santo e pecador, daí força para construir juntos o vosso reino que também é nosso." Nesta oração oficial da Igreja católica está clara a consciência de sua condição de pecadora.
O mesmo reconhecimento transparece quando o Concílio Vaticano II diz que a Igreja é o povo de Deus peregrino no mundo e que o Espírito Santo age para rejuvenescer e reformar permanentemente a Igreja. Como povo peregrino, a Igreja carrega as marcas da imperfeição, próprias daqueles que estão a caminho. Se a Igreja precisa de reforma e rejuvenescimento é porque decai e envelhece, ou seja, erra.
O reconhecimento da condição pecadora da Igreja não a enfraquece, nem é sinal de falta de auto-estima. Quando a Igreja se admite pecadora, reforça ainda mais sua credibilidade, pois demonstra coerência e autenticidade. Seria muito pretensiosa a postura de uma Igreja incapaz de admitir que se engana e peca.
Ademais, como membros da Igreja, experimentamos com freqüência e dor os seus limites. Basta olhar para nossas comunidades eclesiais e perceber os pecados que ali são cometidos: dominação dos mais ilustrados sobre as pessoas mais simples; indiferença e competição entre lideranças e comunidades; defesa do legalismo estrito nas questões pastorais; fechamento às necessidades e lutas dos oprimidos e marginalizados; silêncio diante das injustiças e opressões externas e internas; etc.
A Igreja é chamada à santidade, e essa sua vocação é irreversível. Sua santidade é dom de Deus, ação que o Espírito suscita e sustenta na medida em que a Igreja deixa de se apoiar no poder do dinheiro, da política e da mentira. E o pecado da Igreja pecado é tudo aquilo o que a comunidade eclesial ou seus representantes fazem ou deixam de fazer por dar as costas a Jesus, ignorar seu mandamento, agir guiada pelo medo ou pelos interesses corporativos.
Todos queremos uma Igreja mais santa e menos pecadora, mais inspirada em Jesus Cristo e menos definida segundo os esquemas e vícios das sociedades. Mas o caminho para a santidade começa com o reconhecimento das culpas e o pedido de perdão. "Converta-se e acredite no Evangelho", é o apelo dirigido também à Igreja. "Tende piedade, tende piedade, tende piedade de nós, ó Senhor! Tende piedade, tende piedade, vosso povo é santo, mas também é pecador!"
Itacir Brassiani msf

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