Domingo, 7 de abril:
II Domingo da Páscoa
At 5,12-16; Sl 117; Ap 1,9-13.17-19; Jo 20,19-31: Domingo da Divina
Misericórdia. Memória do
genocídio de 1994, na Ruanda. Para os hebreus, é o dia da memória da Shoah, no
qual é recordado o extermínio do seu povo nos campos nazistas.
Na tarde do domingo da Páscoa os apóstolos continuavam trancados no
cenáculo. Jesus havia passado quase todo o dia com dois anônimos discípulos que
retornavam tristes a Emaús, onde moravam. O Evangelho deste segundo domingo da
Páscoa (Jo 20,19-31), nos conduz à tarde daquele dia.
O evangelista nos conta que, enquanto os discípulos estavam reunidos
“com as portas fechadas por medo dos judeus”, Jesus entrou e se colocou no meio
deles. Ele lhes havia dito na última ceia: “Eu voltarei a vós. Ainda um pouco
de tempo e o mundo não mais me verá; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós
vivereis” (Jo 14,18-19). Mas eles não haviam entendido e, de qualquer modo, não
haviam acreditado.
Naquela tarde da páscoa inicia para eles uma nova compreensão de Jesus.
Agora vêem um Jesus diferente, ressuscitado, mesmo que seja muito parecido com
o Jesus de antes: no seu corpo são visíveis os sinais dos pregos e o corte da
lança, como se se quisesse dizer que estamos apenas no inicio da ressurreição.
Muitos são ainda hoje os corpos marcados pelas feridas e sofrimentos que
esperam uma ressurreição...
Jesus ressuscitado está ali, no meio dos seus, para confiar-lhes sua
própria missão: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20,21). Se
trata de uma única missão, que parte do Pai e, através de Jesus, é transmitida
aos discípulos: é a missão de levar ao mundo a paz e o perdão. Foi uma tarde
cheia de alegria para aqueles dez discípulos: eles haviam reencontrado o
Senhor. Os dois discípulos de Emaús, que voltaram na noite que se seguiu,
aumentaram ainda mais a alegria.
Mas Tomás, homem disponível e generoso, não estava presente. Uma vez ele
havia dito que estava pronto a morrer por Jesus, mesmo que depois tenha fugido,
como todos os demais discípulos. Quando os dez lhe dizem que tinham visto o
Senhor, Tomás esfria os ânimos com sua resposta: “Se não vir a marca dos pregos
nas suas mãos, se eu não puser o dedo na marca dos pregos, se eu não puser a
mão no seu lado, não acreditarei” (20,25).
Tomás diz inicialmente “se não vir” e, depois acrescenta, considerando
que também os olhos podem enganar (certamente Tomás não quer fazer parte do
crescente número de videntes) uma prova física um pouco brutal: pôr o dedo no
buraco deixado pelos pregos e a mão na brecha aberta pela lança no peito de
Jesus. Tomás não acolhe o anúncio dos dez e permanece, não sem suas razões,
triste e sem esperança.
Depois de oito dias, exatamente como no domingo de hoje, estando todos
de novo reunidos, e Tomás com eles, Jesus volta. Mais uma vez, as portas
estavam fechadas por causa do medo. Todos sentem medo, inclusive Tomás: a falta
de fé e o medo estão sempre juntos. Depois de saudá-los mais uma vez desejando
a paz, imediatamente Jesus procura Tomás com o olhar, chama ele pelo nome e se
aproxima: “Põe o teu dedo aqui, e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e
coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” (20,27).
Diante de Jesus, ainda marcado pela cruz, Tomás não pode senão confessar
sua fé: “Meu Senhor e meu Deus!” E Jesus replica: “Creste porque me viste?
Felizes os que, sem terem visto, creram!” (20,29). É a última bem-aventurança
do Evangelho, aquela que sustenta as geraçãos que doravante não nascerão da
visão mas da escuta do Evangelho anunciado pelos apóstolos.
Uma antiga lenda diz que a mão de Tomás permanece vermelha de sangue até
à sua morte. O Senhor, como se recolhesse nossa pouca fé, exorta cada um de
nós, como fez a Tomás, a tocar com as mãos as feridas da humanidade, a
aproximarmo-nos das situações de martírio e de abandono: a nossa incredulidade
é assumida pelo Senhor e transformada em amizade e fonte de paz. A escuta do
Evangelho e a caridade são a estrada da nossa felicidade.
Reflexão preparada pela Comunidade Santo
Egídio de Roma e traduzida ao português a pedido da mesma por Itacir Brassiani msf)
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