No calendário romano e no
calendário anglicano, o dia 29 de abril propõe a memória de Santa Catarina de
Sena, consagrada da terceira ordem sodminicana e doutora da fé.
Catarina Benincasa nasceu em Sena
em 1347, a penúltima de 25 filhas. Demonstrando desde pequena uma inclinação à
vida interior, aos 15 anos se consagrou como terciária dominicana, atraída pela
atividade caritativa em favor dos pobres e doentes. Seu amor por Cristo,
alimentando por un vivo e constante diálogo interior e pela radical vida
evangélica que levava, atraíram um pequeno grupo de discípulos che a seguiam
para participar dos seus dons e do seu ministério.
Catarina dedicou toda a sua vida
à causa da paz e da unidade, atuando decididamente – fato nada ordinário em se
tratando de uma jovem mulher daquele tempo – pela reconciliação da cidade
dividida e em luta e pela reforma da Igreja, ferida pela corrupção e pelo
cisma.
Catarina visitava os pobres para
confortá-los e os poderosos para indicar-lhes a via da reconciliação exigida
pelo Evangelho. Manteve uma intensa correspondncia postal, graças à qual
ampliava seus conselhos espirituais a todos aqueles que lhe pediam uma palavra
e, no seu Diálogo sobre a divina
providência, nos deixou um cântico de amor de rara beleza.
Catarina foi
proclamada doutora da Igreja por Paulo VI, em 1968, título que lhe é
reconhecido também pela Igreja anglicana. Morreu no dia 29 de abril de 1380 e, apesar de ter vivido um breve
lapso de tempo, com sua vida nos deixou como legado uma das mais belas páginas
da espiritualidade cristã. Eis um fragmento, pequeno mas suficiente para nos
dar a conhecer a profundidade da sua experiência e do seu saber.
Agradeço-te, Pai Eterno, porque não desprezaste esta Tua criatura e os
seus desejos.
Tu és a luz, eu sou a escuridão. Tu és a vida, eu sou a morte. Tu és o médico, eu sou a enferma. Tu és a pureza, eu sou a pecadora. Tu és o infinito, eu sou a finitude. Tu és a sabedoria, eu sou a ignorância.
Tu és a luz, eu sou a escuridão. Tu és a vida, eu sou a morte. Tu és o médico, eu sou a enferma. Tu és a pureza, eu sou a pecadora. Tu és o infinito, eu sou a finitude. Tu és a sabedoria, eu sou a ignorância.
Apesar deste e de outros infinitos males que existem em mim, a Tua
sabedoria, a Tua bondade, a Tua clemência, o Teu infinito bem, não me
desprezaram. Até me luminaste com a Tua luz. Na Tua sabedoria conheci a verdade. Na Tua
clemência encontrei a caridade, por Ti e pelos homens. Quem Te obrigou a
realizar tudo isso? Não as minhas virtudes, mas o Teu amor.
Que o Teu conhecimento ilumine a minha inteligência pela fé e que eu
compreenda a verdade que me revelaste. Concede-me que na minha memória conserve
a recordação dos Teus benefícios; que a minha vontade arda na chama do Teu amor
e que essa chama faça brotar sangue do meu corpo.
No sangue e na obediência eu abrirei as portas do céu. Peço o mesmo para
todos os homens, em geral e em particular, bem como para a hierarquia da Santa
Igreja. Confesso que me amaste antes que eu existisse e me amas inefavelmente,
como que enlouquecido pela Tua criatura.
Ó Trindade eterna, ó divindade! A Tua natureza divina valorizou o preço
do sangue de Jesus. És um mar profundo. Quanto mais nele penetro, mais
encontro; quanto mais encontro, mais Te procuro. E quando o homem se sacia no
Teu abismo, mais Te deseja; está sempre com fome, com sede de Ti.Trindade
eterna, desejo ver-Te na luz com a Tua luz!
Ó Trindade eterna, fogo e abismo de amor! Dissolve hoje mesmo este meu
corpo! O conhecimento que me deste, no Teu Filho, obriga-me a suspirar pela
morte, a entregar a minha vida para a glória e louvor do Teu nome, pois no meu
espírito eu experimentei, na tua luz, o teu abismo e a beleza do homem.
Olhando-me em Ti, vi que sou Tua imagem. Deste-me o Teu poder, Pai
eterno;
pela inteligência deste-me da Tua sabedoria, própria do Filho; o Espírito Santo, que procede de Ti e do Filho, concedeu-me a vontade com que sou capaz de amar.
pela inteligência deste-me da Tua sabedoria, própria do Filho; o Espírito Santo, que procede de Ti e do Filho, concedeu-me a vontade com que sou capaz de amar.
Tu,
Trindade Eterna, és o Criador, eu a criatura. Na redenção, ao recriar-me no
sangue de Teu Filho, ó Pai, mostraste que estás apaixonado pela criatura. Ó
divindade eterna, que mais podias conceder-me além de Ti mesmo?
És um fogo que sempre arde e nunca se consome;és um fogo que destrói, no
seu calor, o egoísmo humano; és um fogo que aquece toda a frieza, que ilumina. Com
a Tua luz fizeste-me conhecer a Tua verdade. És uma luz superior a toda a luz.
Dás uma iluminação abundante e perfeita à inteligência, aclarando-a na fé. Por
meio dela, eu vejo que a minha alma possui a vida. Nessa luz eu vejo a Tua luz.
(Comunità de Bose, Il libro dei testimoni, San Paolo, Milano,
2002, p. 215-216)
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