domingo, 5 de maio de 2013

Fatos & Personagens: a marcha do sal


O sal daquela terra

Em 1947, a Índia se transformou em país independente. Então mudaram de opinião os grandes jornais hindus, escritos em inglês, que tinham zombado de Mahatma Gandhi, “figurinha ridícula”, quando lançou, em 1930, a marcha do sal.

O império britânico tinha erguido uma muralha de troncos de quatro mil e seiscentos quilômetros de comprimento, entre o Himalaia e a costa de Orissa, para impedir a passagem do sal daquela terra. O livre-comércio proibia a liberdade:  a Índia não era livre para consumir seu próprio sal, embora fosse melhor e mais barato que o sal importado de Liverpool.

Com o tempo, a muralha envelheceu e morreu. Mas a proibição continuou, e contra ela lançou sua marcha um homem pequeno, ossudo, míope, que andava meio nu e caminhava apoiado numa bengala de bambu.

À cabeça de uns poucos peregrinos, Mahatma Gandhi começou uma caminhada rumo ao mar. Passado um mês, e depois de muito andar, uma multidão o acompanhava. Quando chegaram à praia, cada um recolheu um punhado de sal. E assim, cada um violou a lei. Era a desobediência civil contra o império britânico.

Vários desobedientes caíram metralhados e mais de cem mil foram presos. Presa estava, também, sua nação. Dezessete anos depois, a desobediência a libertou.

(Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2010, p. 291)

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