Poucos dias atrás, na festa de São José
Operário, na ‘mesa da Palavra’ foi-nos servido o ‘prato’ de Mateus 13,53-58.
Jesus encontra-se na própria terra, na sinagoga que ele e sua família
frequentaram durante anos e anos. Seu ensino incialmente causa admiração. Seus
conterrâneos não conseguem entender como uma pessoa que compartilhava com eles
uma origem e uma condiço humilde e humilhada possa fazer e ensinar coisas tão
significativas e revolucionárias. Afinal, aparentemente ele não passa do filho
do José e da Maria da esquina, do carpinteiro que todos conheciam, do irmão de
Tiago, José, Simão, Judas e uma série de meninas. Sua ação transformadora e seu
ensino profético impressionavam, mas sua condição humana e social
escandalizava. Jesus se dá conta disso e afirma, não sem amargura: “Um profeta
só não é valorizado em sua própria terra
e na sua própria casa!” E sua
afirmação se tornou provérbio popular: “Santo de casa não faz milagre...” Mas Jesus
não está para brincadeira e sua afirmação é séria. Sua constatação é reveladora
e crítica, desnuda e fere. A ação profética é rejeitada por quem está mais
próximo, pelos conterrâneos e familiares. E se fizermos a passagem para a esfera
eclesial? Nós, membros ou dirigentes da comunidade eclesial que nasceu
do coração de Jesus e se propõe a viver em nome dele, compartilhamos com ele terra
e casa, somos sua família. Falando sério, seu ensino e sua ação não nos
escandalizam? Será que às vezes não é no seio da hierarquia que Jesus acaba sendo
menosprezado, ou, pelo menos, respeitosamente esvaziado de sua força
fermentadora e transformadora? Não é isso que vem acontecendo frente à
presença, à ação e à organização das mulheres, religiosas norte-americanas mas
não só? Não é isso o que ocorre também com aqueles que reinvindicam uma ação inteligente,
solidária e emancipadora junto aos oprimidos? Ou com quem ousa propor mudanças
na velha, pesada e hipócrita moral sexual sustentada pelo magistério? Penso
carência de milagres – literalmente, fatos ou gestos maravilhosos – na Igreja de
hoje deriva desta terrível incredulidade... (Itacir Brassiani msf)
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