quarta-feira, 5 de junho de 2013

Visita a Belém e retorno a Roma

O que nós vimos em Belém?

Ontem eu havia anunciado que aquela seria a última crônica dessa nossa abençoada peregrinação, mas acabei mudando de idéia. Estamos no aeroporto de Tel Aviv à espera do nosso vôo a Roma. Temos tempo, as lembranças estão ainda bem vivas, e o carinho com que muitos/as nos acompanharam me motivam a partilhar as últimas vivências.
A manjedoura mais famosa da historia...
O nosso simpático guia romeno, senhor Romano Cornel, sugeriu que aproveitássemos esta manhã, para a qual não havia um programa definido, para visitar Tel Aviv, a capital comercial e financeira de Israel, conhecida como cidade que não dorme. Mas nós acabamos decidindo voltar a Nazaré e passar a manhã em torno da gruta do nascimento de Jesus. E assim fizemos.
Partimos relativamente cedo do Hotel Angel, que nos hospedava, e em dez minutos, graças também ao trabalho competente e à gentileza do nosso motorista árabe e muçulmano Adnan Hassnen, estávamos na bela praça diante da basílica da Natividade. Como havíamos aprendido com nosso guia católico no domingo, entramos na gruta de novo pela porta de saída.
Nossa esperteza foi de novo brindada com uma graça especial: chegamos no final do anúncio do Evangelho de uma missa em italiano, participada por umas quinze pessoas. Com satisfação integramo-nos no grupo e fizemos coro na oração. Queríamos permanecer na gruta depois da missa, mas o tempo permitido aos católicos durava meia hora, e já havia terminado... Imediatamente começaria a celebração dos armênios, e tivemos que nos retirar.
Lugar onde os magos deixaram seus presentes...
Saímos e nos recolhemos na igreja católica logo ao lado, e ali permanecemos por mais de uma hora, em oração e meditação, ajudados às vezes pelo silêncio, às vezes pelo som do órgão que alguém tocava. Foi muito bom. Uma oração feita de poucas palavras e muitas lembranças, nas quais estavam vocês, familiares, amigos/as e coirmãos. Uma oração feita de escuta, de desejo de compreender o sentido humano e divino daquilo que aconteceu ali há dois milênios.
Depois de um momento forte de oração, saímos pelas ruas repletas de lojas tipicamente palestinas para comprar mais alguma lembrança, com direito até a algumas brincadeiras com as simpáticas crianças que nos pediam para ensinar falar em português (para melhor exercer o ofício de comerciantes, que certamente herdarão de seus pais).
No final da manhã, alguns ainda voltamos uma terceira vez à gruta da natividade de Jesus para mais um momento de oração. Desta vez a gruta estava repleta de peregrinos, e quem os orientava e coordenava era um padre da Igreja Armênia. Mesmo assim, foi posível rezar silenciosamente, e contemplar e tocar o exato lugar onde Jesus nasceu, a manjedoura onde Maria o colocou e o lugar onde os magos depositaram seus dons.
Certamente a encarnaçao de Jesus tem algo a ver
com estas mulheres palestinas que hoje protestavam
pelo assassinato dos seus filhos...
Diante da manjedoura, pedi a Jesus a graça de ser coerente e consequente com o batismo e a consagração religiosa. Diante do altar/muro da oferta dos magos, pedi a graça de viver com generosidade e alegria o compromisso público que fiz um dia de doar aquilo que sou, posso e tenho aos meus irmãos e irmãs, prioritariamente a quem mais necessita. E muito mais...
Na oração estamos acostumados mais a pedir que a agradecer, e isso ocorreu também na minha oração na gruta do nascimento de Jesus. É verdade que pedi pouco pra mim, e muito mais pelas pessoas que quero bem e que estão mais frágeis. Mas também agradeci, pois motivos não faltam. E o primeiro agradecimento e louvor, o mais importante, dirigi a Jesus Cristo, que assumiu nossa humana carne e fez-se dom sem reservas nem condições.
O antigo testamento nos ensina que Deus não faz diferença entre pessoas, mas o mistério da encarnação nos mostra que ele escolheu assumir a história humana pelo seu lado avesso, pela porta dos fundos, pelo corpo dos pobres, através de um casal de anônimos galileus. Ele não escolheu a pureza dos sacerdotes do templo ou o celebrado poder dos delegados do império romano e dos mandaletes que a eles serviam. Por isso Deus é grande e merece nosso louvor!
Nosso grupo, com o motorista (1° da esquerda para a
direita) e o guia (no centro), no aeroporto de Tel Aviv
Mas eu louvo a Deus também porque, em Jesus de Nazaré, nascido em Belém e executado na cruz, ele não assumiu apenas alguns aspectos da vida humana, não deixou de lado as fraquezas e as durezas que lhe são inerentes. Ele aceitou o lento ritmo do crescimento, assumiu o exigente caminho da fé, partilhou conosco o trabalho que possibilita a vida, viveu o desafio da vida familiar, procurou discernir a vontade de Deus na complexidade às vezes nebulosa dos acontecimentos e, na escura solidão do gólgota, misturou seu grito ao clamor dos desesperados de todos os tempos e latitudes. É isso que vimos e contemplamos em Belém...

Finalmente, louvo e agradeço a Deus pela oportunidade de fazer essa peregrinação, pelos companheiros/as de caminhada (Edmundo, Tarsila, Herculano, Sandra e Leonor), pelo nosso competente guia Romano Cornel e pelo nosso discreto e atento motorista Adnan Hassnen. Mas como terminar sem registrar a graça da internet para compartilhar vivências e pensamentos, e pela calorosa e sensível companhia de vocês, que nos acompanharam como se estivessem ao nosso lado? Por tudo e sempre, glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, e paz na terra, em toda a terra, entre todos os povos e pessoas.

Itacir Brassiani msf

Um comentário:

Unknown disse...

A partilha sempre enriquece, como diz aquela canção: "Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas"... Muito bom este exercício que vc fez de nos manter caminhantes com vcs através dos relatos que fez. Obrigado. Pe. Francisco