sábado, 27 de julho de 2013

JMJ 2013 Rio

Jornada Mundial de Juventude: algumas inquietações

O Brasil está sendo movido e comovido pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Até a imprensa tradicional e comercial está se dobrando a um fato que se torna necessariamente notícia religiosa. A presença do Papa Francisco recebe um destaque suplementar. Mas também a Igreja católica dirige para a JMJ suas atenções e recursos, e tem nela sua visibilidade. E isso não deixa de proporcionar ao mundo católico um crto alívio e uma sensação de relevância que se pensava perdida.

Acabo de assistir a Via-Sacra da Jornada, montada e apresentada nas areias da praia de Copacabana: um texto leve, breve e orante, acompanhado por cenas comoventes, sempre unindo o caminho de Jesus com a caminhada da juventude e seus desafios. Pouco acompanhei dos demais momentos, especialmente das catequeses feitas nas comunidades paroquiais na parte da manhã. Certamente estas atividades, mesmo sem a publicidade das demais, contribui para uma fé mais enraizada e menos espetacular. E é isso que permanecerá, junto com a experiência indelével de fraternidade universal.

Mas confesso que aquilo que vi da JMJ me deixa algumas inquietações. E a primeira é a excessiva centralização na figura do Papa Francisco (e dos bispos). Nem de longe me passa pela cabeça negar a lufada de ar renovado que ele vem ajudando a Igreja toda a respirar, tanto pelas suas palavras como pelo seu testemunho. Mas esse velho hábito de saudar o Papa como ‘vigário de Cristo’, não é coisa superada? Ou será que esquecemos Mt 25,31-46 (e outras passagens), onde Jesus estabelece claramente os pobres como seus representantes no mundo?

Uma outra preocupação é sobre o papel dos/as jovens na Jornada. A JMJ é uma atividade do Papa ou um evento organizado e protagonizado pela Juventude? Onde está o protagonismo dos/as jovens? Eles são sujeitos ou apenas destinatários da JMJ? Causou-me desconforto ver que, cada vez que um/a jovem toma a palavra ou sobe ao ‘palco’ para intervir numa liturgia, sempre aparece acompanhado por um sacristão, seminarista ou padre (mesmo que também esses sejam jovens). Os jovens são menores que precisam de tutela clerical?

Todos sabemos (ou esperamos) que a JMJ não se reduz às atividades desta semana. Oxalá os dois anos de preparação, a peregrinação da cruz oficial por todas as dioceses brasileiras, as atividades para reunir recursos econômicos, a organização da hospitalidade para acolher os jovens que vieram de outros estados e países representem um dinamismo que deixe suas marcas, germine e frutifique numa Igreja menos clerical e mais jovem.


Itacir Brassiani msf 

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