Jornada Mundial de Juventude:
algumas inquietações
O Brasil está sendo movido e comovido pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Até a imprensa tradicional e
comercial está se dobrando a um fato que se torna necessariamente notícia
religiosa. A presença do Papa Francisco recebe um destaque suplementar. Mas
também a Igreja católica dirige para a JMJ suas atenções e recursos, e tem nela
sua visibilidade. E isso não deixa de proporcionar ao mundo católico um crto
alívio e uma sensação de relevância que se pensava perdida.
Acabo de assistir a Via-Sacra da Jornada, montada e apresentada nas
areias da praia de Copacabana: um texto leve, breve e orante, acompanhado por
cenas comoventes, sempre unindo o caminho de Jesus com a caminhada da juventude
e seus desafios. Pouco acompanhei dos demais momentos, especialmente das
catequeses feitas nas comunidades paroquiais na parte da manhã. Certamente
estas atividades, mesmo sem a publicidade das demais, contribui para uma fé
mais enraizada e menos espetacular. E é isso que permanecerá, junto com a
experiência indelével de fraternidade universal.
Mas confesso que aquilo que vi da JMJ me deixa algumas inquietações. E a
primeira é a excessiva centralização na figura do Papa Francisco (e dos
bispos). Nem de longe me passa pela cabeça negar a lufada de ar renovado que
ele vem ajudando a Igreja toda a respirar, tanto pelas suas palavras como pelo
seu testemunho. Mas esse velho hábito de saudar o Papa como ‘vigário de
Cristo’, não é coisa superada? Ou será que esquecemos Mt 25,31-46 (e outras
passagens), onde Jesus estabelece claramente os pobres como seus representantes
no mundo?
Uma outra preocupação é sobre o papel dos/as jovens na Jornada. A JMJ é
uma atividade do Papa ou um evento organizado e protagonizado pela Juventude?
Onde está o protagonismo dos/as jovens? Eles são sujeitos ou apenas
destinatários da JMJ? Causou-me desconforto ver que, cada vez que um/a jovem
toma a palavra ou sobe ao ‘palco’ para intervir numa liturgia, sempre aparece
acompanhado por um sacristão, seminarista ou padre (mesmo que também esses
sejam jovens). Os jovens são menores que precisam de tutela clerical?
Todos sabemos (ou esperamos) que a JMJ não se reduz às atividades desta
semana. Oxalá os dois anos de preparação, a peregrinação da cruz oficial por
todas as dioceses brasileiras, as atividades para reunir recursos econômicos, a
organização da hospitalidade para acolher os jovens que vieram de outros
estados e países representem um dinamismo que deixe suas marcas, germine e
frutifique numa Igreja menos clerical e mais jovem.
Itacir Brassiani msf
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