domingo, 28 de julho de 2013

Palavra & Polêmica

O mundo da vida tem força sobre o mundo do pensamento. Frequentemente idéias e práticas que julgávamos superadas reaparecem com força no cotidiano. E mesmo princípios que retínhamos claros, essenciais e enraizados na vida, acabam relatizados e acomodados às velhas formas de pensar. Ofereço dois exemplos daquilo que acabo de afirmar. O primeiro é a idéia de sacrifício. Há poucos dias, na assembléia da CRB realizada em Brasília, fiquei impressionado com a ênfase que um bispo deu à leitura sacrifical da vida de Jesus, ignorando quase que totalmente a interpretação profética. Cheguei quase a me convencer que Jesus foi mesmo oferecido em sacrifício sobre um altar, em meio a candelabros e incenso, e não tenha sido vítima da resistência que lhe opuseram os poderes religiosos e políticos. O segundo exemplo são as homilias que tenho ouvido sobre o episódio de Jesus na casa de Marta e Maria. Não sei se por superficialidade ou por preguiça, a maioria dos pregadores ignora a advertência de Jesus e concilia o inconciliável: a operosidade de Marta com a docilidade de Maria. Mas Jesus não disse que ‘uma só coisa é necessária’, e que Maria soube escolher? É claro que não se trata de escolher entre a passividade eivada de indiferença e o ativismo previdente e responsável. No episódio de Lc 10,38-40 o que se condena em Marta é uma fé agitada e pressionada por mil leis e normas (como aquela do sacerdote e dos levitas em Lc 10,25-37), a ponto de se tornar incapaz de misericórdia e de compaixão (encarnadas exemplarmente pelo samaritano e ensinada por Jesus). Eis aí a questão: parece muito mais cômodo e fácil permanercer no senso comum e aparar as arestas do Evangelho, colocando vinho novo em velhor barris. Ou seja: ressuscitar a velha e antropologicamente mórbida idéia de sacrifício; reafirmar a necessidade de cumprir um monte de leis inócuas e opressoras. A quem interessa isso? (Itacir msf)

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