"Um vazio assim pungente não há de ser inutilmente..."
Depois de
ter acompanhado, com o Pe. Edmundo, em três semanas seguidas, três assembléias
provinciais, reservei uma semana para uma série de exames médicos de rotina e
para preparar o retiro que deverei orientar para o clero da diocese de Santo Ângelo,
no início do mês de agosto. Para isso, vim a Passo Fundo e hospedei-me na casa
provincial, situada próxima a um qualificado centro médico e num ambiente reconhecidamente
tranquilo.
Consegui
concluir a bateria de exames e, graças a Deus, os resultados não apontam nada
de errado com minha saúde. Mas pouco consegui fazer em termos de preparação
para o retiro. A partida do amigo Pe. Ceolin ainda me oprime fortemente, e eu
me sinto deslocado, perdido, desorientado, abalado. Isso nunca havia acontecido
comigo, nem quando do falecimento do meu pai, ocorrido no dia dez de julho, há
vinte anos atrás. O que isso significa? Por que esta ‘perda’ me abalou tanto? Será
que a minha fé enfraqueceu? Meu relacionamento com ele era sadio?
Sincermente,
não imaginava que o Ceolin tivesse tamanha influência sobre o meu viver. É claro que eu sempre admirei ele, que ele foi
decisivo no meu processo de formação, que eu sentia por ele uma estima e um
carinho como se sente por poucas pessoas. Mas também nunca ignorei os seus limites,
especialmente seus acessos de nervosismo, contra os quais lutava nem sempre com
sucesso. Por isso, imaginava que tinha dele uma imagem realista e crítica, se
bem que não fria ou distante.
Ele permanecera assim: na primeira fila, mas um irmão entre os irmãos |
Mas o
estado em que o encontrei no último 28 de junho e a sua páscoa no dia 3 de
julho tiveram sobre mim um efeito como que anestesiante. Uma espécie de
penumbra fez desaparecer o contorno definido das coisas, fatos e afetos. Sua
imagem, seus gestos e suas palavras me visitam constantemente e eu simplesmente
não consigo imaginar uma visita à Província sem encontrar ele, sem ver o rosto
dele e sem ouvir voz dele. Para mim, ele faz é parte inapagável da paisagem da Província
e também da minha vida. Ele não pode desaparecer...
Não
consigo nem mesmo descrever suas qualidades e o perfil da sua vida. Ele me
parece grande demais, e jamais caberia nas descrições sempre incompletas que
poderia dele fazer. A enxurrada de testemunhos e depoimentos que recebi nos
últimos dias não ajudam, e só fazem confirmar as mil faces e qualidades desse
amigo, irmão, mestre e pai. Se ao menos eu pudesse dizer para mim mesmo e
testemunhar para as pessoas que quero bem aquilo que ele significa... Mas não
consigo, e, por isso, vou mendigando às palavras uma ajuda para lançar um raio
capaz e iluminar algumas facetas desse homem.
Caminhando
anestesiado e na penumbra, lançando suspiros neste (momentâneo) deserto,
procuro consolo nas santas e inspiradas palavras e nas instuições dos poetas. Com
o livro da Sabedoria, digo que a vida dos homens justos brilha como as estrelas
no firmamento e orienta a caminhada dos que seguem aqui na terra. Com João
Bosco e Aldir Blanc, que cantavam doloridos a partida forçada dos exilados, eu
digo a mim mesmo: “Eu sei que uma dor assim pungente nã há de ser
inutilmente...” Espero, desejo e prometo que as sementes de uma vida doada
assim tão generosamente encontrarão terra boa; germinarão, crescerão e darão
folhas, flores e frutos.
Itacir Brassiani msf
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