O padre francês Jean-Baptiste Labat recomendava num de
seus livros, publicado em 1742:
“Os meninos africanos de dez a quinze anos são os
melhores escravos para se levar para a América. Tem-se a vantagem de educá-los
para que marquem o passo como melhor convenha aos seus amos. Os meninos
esquecem com mais facilidade seu país natal e os vícios que lá reinam, se
encaminham com seus amos e estão menos inclinados à rebelião que os negros mais
velhos.”
Esse piedoso missionário sabia bem do que falava. Nas ilhas
francesas do mar do Caribe, Père Labat
oferecia batismos, comunhões e confissões, e entre missa e missa vigiava suas
propriedades. Ele era dono de terras e escravos.
Em 1791, outro amo de terras e escravos enviou uma
carta do Haiti. Dizia que “os negros são muito obedientes, e serão sempre”.
A carta estava navegando rumo a Paris quando ocorreu o
impossível. Na noite de 22 para 23 de
agosto de 1791, noite de tormenta, a maior insurreição de escravos da
história da humanidade explodiu nas profundidades da selva haitiana. E esses
negros muito obedientes humilharam o exército de Napoleão Bonaparte, que havia
invadido a Europa de Madri a Moscou.
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 268-269)
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