Ontem a Igreja nos propunha a memória de Maria Rainha. Você não acha que este título aplicado a Maria é assaz anacrônico e
ambíguo, apesar da memória ter sido introduzida na loiturgia recentemente (por
Pio XII, em 1955)? Como não ficar com a impressão de que, para os cristãos
católicos, a monarquia – com seus reis, rainhas e príncipes – continua sendo o
ideal perfeito do que é ser homem e mulher? O Evangelho sublinha que Maria é
serva, e não rainha! O próprio trecho de Lucas proposto para a liturgia
do dia tem seu desfecho nas palavras claras e belas de Maria: “Eis aqui a serva
do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Só a longa
convivência quase simbiótica do cristianismo com as monarquias e os impérios
pode levar ao disparate de imaginar e propor Maria como rainha. Renovar
o imaginário é preciso! Dando por descontado que não podemos prescindir
de imagens para falar de Deus e daqueles/as que o buscam e testemunham, ao menos
busquemos imagens mais sintonizadas com o Evangelho. Que tal celebrar a memória
de Maria Serva do Senhor? Ou propor a
festa de Maria Sindicalista ou líder
de movimentos populares? Ou a solenidade de Maria
Mestra dos sonhadores utópicos?
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