Espírito de Deus, que, nos primórdios da criação te lançavas sobre os
abismos do universo e transformavas em sorriso de beleza a grande confusão das
coisas: desce de novo sobre a terra e concede-lhe o santo frêmito dos começos.
Toca com a asa da tua glória este mundo que envelhece. Dissipa suas
rugas e enfaixa as feridas que o egoísmo desenfreado da humanidade causou na
sua pele. Mitiga com o óleo da ternura a dureza da sua crosta. Restitui-lhe o
manto do antigo esplendor, que as nossas violências lhe roubaram, e derrama abundantemente
sobre sua carne seca muitos vasos de perfume.
Invade o interior de todas as coisas e apossa-te do seu coração.
Ajuda-nos a perceber tua dolente presença e a escutar tua voz e tua Palavra no gemido contundente das florestas
destruídas, no grito surdo dos mares contaminados, no pranto silente dos rios
secos, na escura desolação das praias cobertas de óleo.
Ensina-nos a permanecer vigilantes e a discernir tua Palavra discreta e eloquente que ressoa a partir da
nossa própria interioridade, na memória coletiva da humanidade que nos habita,
nos temores que nos aprisionam, nos sonhos que nos mantêm despertos e
peregrinos. Ajuda-nos a identificar o ruído dos teus passos e os sussurros da
tua voz no burburinho da história, e a anunciar alegremente a boa notícia de
que estás chegando para nos visitar e permanecer conosco.
Devolve-nos à alegria dos primórdios. Derrama-te sem medida sobre todas
as nossas aflições. Repousa de novo sobre o nosso velho mundo em perigo. E o
deserto, finalmente, voltará a ser jardim, e no jardim florescerá a árvore da
Justiça, e o fruto da Justiça será a Paz.
(Tradução e adaptação de uma invocação de Dom Tonino
Bello)
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