domingo, 18 de agosto de 2013

Pedir a capacidade de escutar a Palavra

Espírito de Deus, que, nos primórdios da criação te lançavas sobre os abismos do universo e transformavas em sorriso de beleza a grande confusão das coisas: desce de novo sobre a terra e concede-lhe o santo frêmito dos começos.
Toca com a asa da tua glória este mundo que envelhece. Dissipa suas rugas e enfaixa as feridas que o egoísmo desenfreado da humanidade causou na sua pele. Mitiga com o óleo da ternura a dureza da sua crosta. Restitui-lhe o manto do antigo esplendor, que as nossas violências lhe roubaram, e derrama abundantemente sobre sua carne seca muitos vasos de perfume.
Invade o interior de todas as coisas e apossa-te do seu coração. Ajuda-nos a perceber tua dolente presença e a escutar tua voz e tua Palavra no gemido contundente das florestas destruídas, no grito surdo dos mares contaminados, no pranto silente dos rios secos, na escura desolação das praias cobertas de óleo.
Ensina-nos a permanecer vigilantes e a discernir tua Palavra discreta e eloquente que ressoa a partir da nossa própria interioridade, na memória coletiva da humanidade que nos habita, nos temores que nos aprisionam, nos sonhos que nos mantêm despertos e peregrinos. Ajuda-nos a identificar o ruído dos teus passos e os sussurros da tua voz no burburinho da história, e a anunciar alegremente a boa notícia de que estás chegando para nos visitar e permanecer conosco.
Devolve-nos à alegria dos primórdios. Derrama-te sem medida sobre todas as nossas aflições. Repousa de novo sobre o nosso velho mundo em perigo. E o deserto, finalmente, voltará a ser jardim, e no jardim florescerá a árvore da Justiça, e o fruto da Justiça será a Paz.

(Tradução e adaptação de uma invocação de Dom Tonino Bello)

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