quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Ir. Geneviève Boyé

Adeus, Irmãzinha Veva!
No dia 24 de setembro, no meio da aldeia onde viveu 60 anos, Ir. Geneviève Boyé, partiu para a Casa do Pai. Chegou francesa, adquiriu cidadania brasileira, mas, por opção evangélica tornou-se índiaTapirapé. Seguiu a orientação da Ir. Madalena quando deixou as três companheiras, em 1952, no Mato Grosso. "Explico às Irmãzinhas o meu pensamento que é muito simples: elas se farão Tapirapé para, daqui, irem aos outros e amá-los... Mas serão sempre Tapirapé".
Veva era muidinha, humilde, de aparência frágil, porém, capaz de transmitir a vitalidade e a coragem de quem descobriu que viver o Evangelho numa aldeia significa "ser índia com os índios". Ninguém como ela conheceu as dificuldades que teve que enfrentar o povo Tapirapé para conseguir sobreviver e preservar sua cultura.
Em 1995, quando era assessor do Setor Vocações e Ministérios, acolhi a Ir. Veva na sede da CNBB, em Brasília. Acompanhei-a às embaixadas da França e da Espanha. Ela precisava preparar a documentação para viajar a estes países. As Irmãzinhas e os Tapirapé haviam recebido o prêmio Bartolomé de las Casas, oferecido pelo rei da Espanha. Tal condecoração é dada à pessoas ou instituições que ajudam minorias em extinção a garantir sua sobrevivência. Disse-me que o único motivo que as levou a aceitar tal distinção foi a "possibilidade de receber ajuda econômica para continuar a luta pela demarcação da terra dos índios e tornar conhecido o povo Tapirapé".
Recordo que ela precisou de um par de sapatos para comparecer diante do rei. Habituada a caminhar de pé no chão, fez alguns calos para ajeitar-se aos sapatos. Naqueles dias eu tinha um compromisso com algumas irmãs  e convidei a Ir. Veva para que desse um testemunho de sua missão. Ficou escandalizada quando uma das imãs lhe perguntou se os índios ainda eram antropófagos.
Ele viajou à Europa acompanhada por dois caciques. No regresso descreveu-me as rações deles diante das novidades do velho Continente. Admirados com o que viam diziam-lhe: "Veva, você deixou tudo isto pra viver quase sem nada junto conosco?!
Herdeira autêntica do carisma de Charles de Foucuald, Veva testemunhou o Evangelho inculturado através da inserção radical, do profundo repeito pelo diferente, do permanente diálogo intercultural e interreligioso. Sem impor nada, soube caminhar de mãos dadas e integrar a boa nova da cultura Tapirapé com a Boa Nova de Jesus. Deste modo, as Irmãzinhas tornaram-se as "parteiras do CIMI", novo jeito de ser presença cristã missionária no meio dos povos Indígenas.
Encontrei a Veva pela última vez no Congresso que celebrou os 40 anos do CIMI, em Brasília, de 20 a 23 de novembro do ano passado. Cansada, magrinha, encurvada, mas muito lúcida, sempre alegre e com os olhos brilhando de felicidade.
Estou chorando sua despedida. O consolo me vem da certeza de que os povos indígenas do Rio Negro e de  toda a Pátria Grande ganharam uma carinhosa intercessora na definitiva Terra sem males.
Em comunhão de preces, abraço você com afeto de irmão menor no amor de Jesus
+ Edson Damian

Pobre bispo do povo do mato

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