sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Cinco anos da Páscoa do Pe. Hermeto Lunkes msf

Hoje recordamos o 5º ano do falecimento do nosso querido Pe. Hermeto Lunkes msf. À memória agradecida em forma de prece, é importante agregar a recordação daquilo que ele nos ensinou com a vida e com as palavras. Resgato aqui uma bela meditação que o Hermeto nos legou, unindo a celebração do mês da Bíblia à memória do Pe. Berthier e da fundação dos Missionários da Sagrada Família. O texto foi publicado inicialmente em O Bertheriano, n° 103 (outubro de 2009), p. 19.

A Palavra de Deus é maior… do que a Bíblia!

Vivemos em setembro um mês especial para o encontro com a Palavra de Deus. À medida em que nos pusermos em atitude de escuta deste Deus dialogante, percebemos que a Palavra de Deus é bem maior em mais envolvente... que a Bíblia. E quem sabe experimentamos in persona o que o jovem Jeremias escutou na aurora da sua missão profética: “Não tenha medo, porque estou com você!.. Veja, estou colocando minhas palavras em sua boca!...” (Jr 1,4-9). Será que não foi também isso que o Pe. Berthier experimentou quando, relendo, meditando, orando e contemplando o texto de Mt 9,35-38, encontrou coragem e iniciou sua “obra missionária da Sagrada Família”, construindo-a sobre o alicerce desta palavra de Jesus, o “Missionário do Pai”?
A Palavra deste Deus começa a parecer-nos bem maior... do que a Bíblia. Esta é apenas um sinal de Deus que transcende todas as aparências. No entanto, esta Palavra se fez perceptível pela sensibilidade dos critérios bíblicos. O prólogo de João revela, em sua mística poética, que “a Deus ninguém jamais viu. O Filho unigênito, que está em comunhão com o Pai, ele no-lo deu a conhecer” (Jo 1,18), pois, como o mesmo evangelista afirma, “o Verbo se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Desta Palavra relida como evento de convivência dialógica do divino-humano de Deus com toda a criação emanam critérios de releitura, meditação, oração e contemplação. Fazendo-se um de nós e habitando entre nós, Jesus de Nazaré – o revelador da plenitude de Deus (cf. Jo 1,16) – tornou-se o ponto culminante da Palavra recriadora e re-significadora da vida em seu alcance mais amplo. A Bíblia é sua referência escrita, pela qual a fé popular exprime a permanente novidade de Deus. O nosso é um Deus que, inserido totalmente na humana história, nos possibilita o diálogo consigo. Este diálogo se  dá primordialmente em Jesus de Nazaré, que, por isso, é identificado como a Palavra de Deus que estava com Deus desde o princípio e com Ele presidiu a criação do universo (cf. Jo 1,1-4).
A existência humana é provocada a ser mais dialógica ad intra, ad extra e ad Deum. A Bíblia é uma espécie de manual escrito pelos que acolheram a Palavra, fizeram a experiência de ser filhos e filhas de Deus, pois “nasceram de Deus” (cf. Jo 1,12-13). A Bíblia nos permite falar com Deus a respeito da vida, pois ela é uma espécie de livro da Vida: livro que nos transmite palavras de Vida eterna, mas também livro que nos fala da vida da nossa família religiosa, prolongando em nós a revelação através da vida que Deus viveu na existência humana de Jesus. Jesus foi e continua sendo “o Verbo de Deus”, revelando o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem. E “o Verbo se fez homem” com a missão de ser sempre Palavra mensageira e promotora de comunhão e aproximação de Deus, quis “fazer-se próximo dos que estavam longe”. Com esta aproximação dialógica de Deus a nossa missão adquire fecundidade e chão firme.
Acabamos de celebrar (2008-2009) o centenário da páscoa do Pe. Berthier. O cristão, religioso e missionário Pe. Berthier recorreu à sabedoria e ao dinamismo bíblico para encontrar critérios fundantes para o nosso carisma e a nossa espiritualidade. Para ele, os textos bíblicos eram como que fontes de água viva (cf. Jo 4,10) alimentadoras do discipulado e da atividade missionária. O nosso carisma brotou do Verbo de Deus e da Palavra que saiu consciente e, ao mesmo tempo, espontânea do anúncio misericordioso e compassivo de Jesus, colhido por Mateus e contemplado pelo Pe. Berthier: “Tenho compaixão deste povo porque...” (Mt 9,35-38). Enquanto Jesus se punha a percorrer os caminhos das cidades e dos povoados, o Pe. Berthier foi pensando os caminhos, povoados e aldeias que ele e seus discípulos deveriam percorrer para se aproximarem daqueles que estavam longe. Não bastasse esta motivação missionária, a mensagem de Nossa Senhora da Salette aumentou sua urgência evangelizadora.
Creio não estar errado se aponto para uma constante busca das fontes bíblicas em vista da nossa aproximação daqueles que estão longe, para a questão do quanto a prioridade dos critérios da Palavra de Deus é fundamental para uma revitalização das nossas opções missionárias. Mesmo frente a outros tantos critérios, sem dúvida também de suma importância (critérios científicos, sociológicos, psicológicos, técnicos e assim por diante), cabe-nos priorizar os critérios bíblicos, visto que estão tão sintonizados com as razões do Missionário do Pai, Jesus de Nazaré. Por aproximação, o Pe. Berthier os considerou fundamentais para uma autêntica e sábia atividade evangelizadora, também para o seu e o nosso tempo.

Pe. Hermeto Lunkes msf

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