domingo, 8 de setembro de 2013

Vigilia e Jejum pela Paz em Roma

“Cem mil com o Papa contra a guerra”

Terminei a minha crônica de ontem sobre a Vigília pela Paz, realizada em Roma, com uma referência um pouco cáustica à minha Igreja. Este é o meu pensamento, e não pretendo renegá-lo, mas quero hoje tomar distância e ampliar o que escrevi ontem. E começo corrigindo uma informação: não foram cinquenta mil, mas cem mil os participantes da vigília na Praça de São Pedro. E as repercussões foram impressionantes.

Tomo, a título de exemplo, o Jornal La República, de tendência reconhecidamente esquerdista e marxista. A foto mais destacada da capa da edição de hoje se refere à Vigília, acompanhada do título: “Cem mil com o Papa contra a guerra”. E depois, a edição dominical dedica três amplas páginas ao evento, com notícias e artigos muito elogiosos. Eis os títulos: “A guerra traz somente morte: o grito do Papa Francisco diante de cem mil na Praça São Pedro.” “Do jejum dos VIP’s à vigília na praça: a noite branca dos pacifistas sem bandeiras.” “Benvindos ao G-20 do Pontífice: único líder num mundo dos poderosos.”

O articulista Vittorio Zucconi começa seu artigo afirmando: “Era necessário um Papa vindo das Américas para dar uma lição à América. Era necessário um filho de uma cultura e de um continente diverso, não enraizado numa Europa cansada, um homem com o senso inato e instintivo do apequenamento de um mundo sem tempestades locais e hegemonias indiscutíveis. Era necessário um homem assim para fazer aquilo que os poderosos da terra, no seu sempre mais irrelevante festival de vaidades, como é o G-20, não conseguem fazer: encontrar uma voz capaz de atravessar os oceanos de água e de rancor. E que mereça ser escutada.”

Depois de citar algumas frases pronunciadas pelo Papa durante a vigília (“Não à guerra. Nunca mais a v iolência e o confronto!”), Paulo Rodari ajunta: “Palavras que chamam todos a assumar sua própria responsabilidade, que não querem de modo nenhum parecer pró-Assad. A sua é uma condenação sem “se” e sem “mas” de toda e qualquer guerra, na qual Caim renasce e revive.”

O que chama a atenção é que o chamamento ao jejum encontrou eco até em alguns personagens VIP’s bem conhecidos do mundo italiano. O prêmio nobel de literatura Dario Fo, o cantor Gianni Morandi, a presidente da Câmara dos Deputados Laura Boldrini e o treinador da seleção italiana de futebol César Prandelli foram alguns dos muitos que aderiram ao jejum sugerido pelo Papa Francisco.

Confesso que, participando de parte da Vigília, me tocou profundamente o clima de respeito, silêncio e oração durante as quatro horas de duração. Como é possível levar uma massa de cem mil pessoas a manter períodos de absoluto silêncio, que se estendiam por mais de dez minutos?! E como é possível reunir sob um mesmo objetivo, cristãos católicos e evangélicos, judeus e muçulmanos, e muitos homens e mulheres sem identificação religiosa?

Em Damasco, capital da Síria, também foi realizada, na mesquita dos Omayyadi,  uma celebração de jejum e oração. O encontro foi presidido pelo Grande Mufti da Síria, Ahmad Badreddin  Hassou, líder espiritual do islamismo sunita. Participaram do evento líderes das correntes islâmicas sunita, xiita, alawita, e ismaelitas, e também líderes de outras religiões, como judaísmo e cristianismo. Neste templo que guarda relíquias de São João Batista e é ponto de peregrinação de cristãos e muçulmanos, os promotores quiseram se unir à oração convocada pelo Papa Francisco em Roma...

Para o bem da verdade, devemos dizer que o argentino Papa Francisco não foi o único líder mundial a levantar a voz contra a irracionalidade da guerra que está sendo armada. Também Adolfo Perez Esquivel, outro argentino e prêmio Nobel da Paz, soltou o verbo, escrevendo uma carta dura e profética a Barak Obama. Parece que para os poderosos, a guerra continua sendo ouro. Mas a paz vem sendo gritada e reivindicada por dois homens que vêm do Prata...

Itacir Brassiani msf

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