sábado, 12 de outubro de 2013

Capitulo Geral MSF

N.S.Aparecida na capela da casa do Capitulo
Dia de memória, festa e de decisão
Hoje, 12 de outubro, é festa de Nossa Senhora Aparecida, Dia da Criança, 521 anos da chegada dos europeus às Américas (assim batizadas por eles). A propósito desta última ocorrência, Eduardo Galeano escreve, com sua incomparável capacidade de ler as coisas pelo avesso: “Em 1492, os nativos descobriram que eram índios, descobriram que viviam na América, descobriram que estavam nus, descobriram que deviam obediência a um rei e a uma rainha de um outro mundo e a um deus de outro céu, e que esse deus havia inventado a culpa e o vestido, e que havia mandado que fosse queimado vivo quem adorasse o Sol e a Lua e a Terra e a Chuva que molha essa terra.”
Aqui no Instituto Maria Bambina, onde realizamos nosso Capítulo Geral, começamos o dia com a liturgia animada pela Província Brasil Oriental, com direito a procissão com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, bandeira do Brasil e muito mais. E terminamos o dia com uma janta mais solene do que o costume. Mas isso não em razão da festa de Nossa Senhora Aparecida, mas da eleição do Superior Geral, realizada na tarde de hoje. E o clima festivo continuou noite adentro, com um fraterno Conveniat.
Uma "Comunidade de Discernimento"
Na primeira sessão da manhã, a Irmã Vitória, nossa brava assessora, nos apresentou uma oportuna e exigente reflexão sobre a responsabilidade embutida no ato de eleger um Superior Geral. Pediu que pensássemos muito bem antes de tomar uma decisão que pode mudar radicalmente a vida e os projetos de um coirmão. Depois, fizemos uma sondagem sobre os nomes preferidos para exercer este ministério. A apuração não foi feita no plenário, e o resultado foi apresentado da seguinte maneira: uma lista com os nomes, dispostos em ordem alfabética, que receberam cinco ou mais indicações, mas sem o número de votos; uma lista dos nomes, em ordem alfabética e sem o número de indicações, dos coirmãos que receberam menos de cinco indicações. Como apareceram apenas três nomes com mais de cinco votos, não realizamos uma segunda sondagem, conforme o previsto.
Outra "Comunidade de Discernimento"
Em seguida, tivemos um tempo para oração, reflexão e discernimento pessoal, considerando os nomes mais indicados e o perfil de governo que necessitamos, conforme indicamos ontem. Iniciamos a tarde com um momento de oração comunitária na capela, pedindo ao Espírito Santo as luzes para discernir corretamente o nome do coirmão sobre o qual depositaríamos a responsabilidade de animar e dirigir a congregação, à luz das Constituições e das decisões deste capítulo, nos próximos seis anos.
Ato contínuo, voltamos à sala da assembléia para proceder a votação. Já na primeira votação o Pe. Edmund Jan Michalski, atual Superior geral, foi reeleito para o ministério, com vinte e três dos quarenta e quatro votos. Assim, ele continuará no governo por mais seis anos e terá nas mãos a responsabilidade de implementar as decisões que ainda estamos tomando neste capítulo. Em seguida voltamos à capela, agora para uma breve celebração de ação de graças, na qual louvamos a Deus pela disponibilidade do Pe. Edmund e pela maturidade que os coirmãos demonstraram no processo de discernimento. Nesta celebração, o Superior reeleito fez sua profissão de fé, iluminada pelo episódio que João narra no capítulo 21 do seu evangelho: interrogado por Jesus se o ama, Pedro responde que sim, e Jesus pede que então ele tome conta do seu rebanho. Assim, na Igreja, o amor a Jesus Cristo, base de todo ministério, se mostra e se mede no cuidado pastoral, e tem sua base não no mandato que dá autoridade mas no chamado a ser eterno aprendiz.
Uma terceira "Comunidade de Discernimento"
É possível que alguns se perguntem o que significa essa reeleição do Pe. Edmund. No meu modo de ver, está claro que a maioria da Congregação, representada pelos quarenta e quatro capitulares, deseja continuar um estilo de governo focalizado na presença fraterna, na administração e na resolução de questões jurídicas, sem projeto e sem perspectiva. E digo isso sem ressentimento nem maldade. Assim tem sido pelo menos nos últimos dezoito anos de governo. Pergunto-me se mantendo esse ritmo por um quarto de século uma Congregação não corre o risco de perder irremediavelmente o trem da história.


Itacir Brassiani msf

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