segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Missão e sinais dos tempos (2)

Estamos realizando nosso XIII Capítulo Geral. Na manhã do fia 7 de outubro, esteve conosco o Pe. Giulio Albanese, missionário e jornalista comboniano. Ele nos ajudou a refletir sobre a necessidade de ler os sinais dos tempos. Segundo este jornalista missionário italiano, é impossível pensar e projetar a missão hoje sem uma atenta e responsável leitura do tempo e do mundo que vivemos. O presente texto é a segunda parte da parte desta reflexão.
A globalização: as redes de comunicação
O primeiro sinal do nosso tempo é a globalização. Trata-se de um fenômeno em escala planetária cujos efeitos são evidentes no nível sócio-econõmico, cultural e religioso. De alguns anos para cá ferquentemente se fala da globalização como um fenômeno associado conceitualmente à devastante crise dos mercados financeiros e em particular do trabalho. De fato, sobre a globalização se pode dizer tudo e o contrário de tudo, pois trata-se de algo que tem a ver com o progressivo alargamento da esfera das relações sociais a ponto de de, ao menos potencialmente, concidir com o planeta inteiro. Inter-relação global significa também interdependência global, uma vez que as mudanças substanciais que ocorrem em uma parte do planeta têm, em virtude desta inderdependência, repercussões, no bem e no mal, no outro lado do planeta, e num lapso de tempo relativamente breve.
Uma das manifestações tecnológicas mais notáveis é ampliação a nível planetário da Rede Internet, expressão de um progresso comunicativo que deflagrou uma verdadeira revolução cultural, que não pode ser reduzida a um simples indicador do desenvolvimento humano. De fato, a Internet se configura prevalentemente como projeção, na Rede, da condição humana que consente de explorar os infinitos espaços de socialização como são os social network, os mailing list, os news group, os forum, os chat line, os e-mail, para não falar da oferta de inéditos serviços em todos os âmbitos, do comercial ao político, religioso, militar, científico e lúdico.
Portanto,é um fenômeno claramente revolucionário que, no seu conjunto, determinou a criação de novas vias de acesso ao conhecimento como a informação, a pesquisa, a documentação e a atualização, ampliando sem medida o leque das oportunidades humanas. A palavra “Internet” deriva de Interconnected Networks”, ou seja, “redes interconexas”. A idéia fundamental é muito simples e consiste em coligar as redes de computadores entre si, criando “a Rede de todas as Redes”, da qual deriva a metáfora “auto-estrada” internetiana, tão cara a Bill Gates, fundador da Microsoft.
Na sociedade real, também esta globalizada, as auto-estradas nacionais são artérias de comunicação veloz, para cada tipo de meio, privado ou comercial, que coligam as redes viárias locais para facilitar a transferência e a troca rápida de mercadorias. O mesmo vale para as redes ferroviárias, marítimas e aéreas. Cada uma destas redes tem uma origem, uma história, uma evolução, uma especialização, e modificam suas características com o tempo, a tal ponto que, por exemplo, as redes ferroviárias competem com as aéreas no transporte de passageiros, e estas estão em concorrência com as auto-estradas. Estes sistemas de transporte, associados a um standard para visualizar as informações e interagir, levam os sujeitos que os utilizam a novos espaços de encontro e de interação: por analogia, podemos imaginar uma estação ferroviária ou rodoviária, um aeroporto.
Tentemos agora conhecer melhor e aprofundar o conceito de “lugar” na “Rede das Redes” lançando mão da metáfora “não-lugar”. Quem fala disso é o antropólogo francês Marc Augé, para o qual os não-lugares são, em contraposição aos lugares antropológicos, todos aqueles espaços que têm a prerrogativa de não serem identitários, relacionais e históricos. Fazem parte dos não-lugares tanto as estruturas necessárias para a circulação acelerada de pessoas e bens (auto-estradas, aeroportos) como os meios de transporte, os grandes centros comerciais, os campos de refugiados, etc. São espaços nos quais milhões de indivíduos se cruzam sem estabelecer relações, pressionados pelo desejo frenético de consumir ou de acelerar as operações cotidians ou tentando acessar uma mudança (real ou simbólica).
Os não-lugares são prudutos da sociedade da hipermodernidade, incapaz de integrar em si mesma os lugares históricos delimitados, que acabam banalizados em posições limitadas e circunscritas, como “curiosidades” ou como “objetos interessantes”, semelhantes mas diversos: as diferenças culturais massificadas. Em todos os centros comerciais podemos encontrar comida chinesa, italiana, mexicana e árabe, e cada uma com seu próprio estilo, características próprias e espaço definido.
No não-lugar, o indivíduo perde todas as suas características próprias para continuar existindo exclusivamente como cliente e consumidor. O seu único papel é o de usuário, definido por um contrato mais ou menos tácito que assina com a entrada no não-lugar. A Internet nasce assim, como um não-lugar, uma rede de passagem entre lugares, uma rede de transporte vista como um instrumento onde as grandes e pequenas empresas podem publicar as próprias brochuras. A chamada “desintermediação” da informação vem em seguida: por que recorrer a uma rede de TV ou a uma revista especializada para divulgar o meu produto? Sucessivamente, chegou a Internet das interações sociais, as chamadas “redes sociais”.
Seriam as redes sociais um lugar de missão? Elas são um dos tantos contextos onde podemos encontrar em contato com o povo. Estamos falando de uma realidade que, de qualquer modo, para além dos serviços que possa oferecer, é “terra de missão”. Deste ponto de vista, é necessário exercitar uma ação educativa sobre os usuários, promovendo responsabilidade e confiança. Efetivamente, um dos erros cometidos frequentemente por aqueles que se aproximam da Rede com um background cultural “predigital” é aquele de considerá-la como um momento estanque da existência humana. Quase como se existisse, de um lado, a “vida real” e, de outro, a “vida virtual”, claramente distintas uma da outra. Por favor, é claro que se pode viver sem celular, mas os modelos e paradigmas modernos são uma coisa envolvente, são formas expressivas e linguagens que fazem parte do “modus vivendi” das novas gerações, mas também das mais idosas. Para os jovens, como também para seus pais, só existe uma “Vida”, e esta é “hiperconexa”, com o telefone e os SMS, com o correio eletrônico e a Web. O que importa é fazer deles um uso inteligente.
Por conseguinte, segundo a estratégia de Bill Gates, as chamadas “information highways”, as auto-estradas da informática e das informações, não são apenas o sistema nervoso digital desta ou daquela empresa, mas também o sistema nervoso do “sem finalidade lucrativa” (“no-profit”), nas características de economicidade e ubiquidade da network. A mesma coisa vale para o mundo missionário, que começou a utilizar a Internet antes de muitas outras categorias sociais, na primeira metade dos anos noventa, como meio para testemunhar o Evangelho. O importante é compreender que atrás de cada computador há sempre uma pessoa à qual devemos oferecer confiança e apoio, anunciando-lhe a Boa Notícia. E então, “cliquem e lhes será aberto!”
Brincadeiras à parte, se fala frequentemente de “missão digital”, mas em qual modo é deveras possível evangelizar a Internet? Muito dependerá do engajamento das nossas comunidades para serem alfabetizadas o suficiente para compreender a filosfia digital. Se é verdade que em relção aos anos noventa temos feito progressos significativos, a estrada que temos pela frente é ainda muito longa e exigente. A muitos religiosos ainda hoje é difícil entender que a Internet não uma agência de notícias nem um enorme mural planetário, e também não uma simples biblioteca informática. Pretender reduzir a rede a estas esquematizações não é apenas redutivo, mas pode marcar pelo preconceito um grande espaço de livre expressão, útil para abater o muro de ingnorância e indiferença em relação aos valores do Reino, que é, antes de tudo, fraternidade universal.


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