sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Missao e sinais dos tempos (6)

Estamos realizando nosso XIII Capítulo Geral. Na manhã do fia 7 de outubro, esteve conosco o Pe. Giulio Albanese, missionário e jornalista comboniano. Ele nos ajudou a refletir sobre a necessidade de ler os sinais dos tempos. Segundo este jornalista missionário italiano, é impossível pensar e projetar a missão hoje sem uma atenta e responsável leitura do tempo e do mundo que vivemos. O presente texto é a sexta parte desta reflexão.


Sinais dos Tempos: O ativismo
Sempre no contexto dos sinais dos tempos que estamos tentando prescrutar, encontramos um outro fenômeno muito difuso: o ativismo. Hoje tudo parece ritmado pelo movimento físico, ativo, humano. Basta pensar nas viagens frequentes, por prazer ou por dever, ou nos mil e um compromissos da nossa agenda cotidiana de dirigentes, empregados, religiosos, estudantes, voluntários ou até donas de casa. Isso talvez seja o sintoma mais evidente de um frenesi planetário que não conseguimos conter, ou que sofremos, inclusive adoecendo por pressão desse grande stress.
O ativismo se tornou uma obsessão: pouco importa que tenha como objetivo ganhar dinheiro, mudar o mundo, fazer aquilo que os outros fazem, mudar o curso do tempo, mesmo com o custo de abandonar o próprio ser. Todos se sentem investidos do direito/dever de correr. A sociedade é tal que os assalariados devem necessariamente fazer horas-extras, possivelmente mais que no passado, dizem alguns com insistência, como o administrador delegado da Fiat, Sergio Marchionne. A coisa engraçada é que até aqueles que poderiam economizar energias, como os aposentados, se lamentam do excesso de compromissos... Devemos admitir que nos faz bem pensar que estamos ocupados! E não poderia ser diferente, pois parar seria o mesmo que morrer. Na nossa cabeça há coincidência entre o ser e o fazer.
É indiscutível que o ativismo se constitua na palavra de ordem da civilização contemporânea. A exaltação e a prática da ação, portanto, de tudo o que representa esforço, impulso, luta, devir, transformação, busca perene, movimento permanente, emerge um pouco por todo lado. Mas não é apenas isso. Desenvolvemos também uma filosofia de vida escrava deste princípio, que, com uma crítica sistemática e um forte aparato especulativo, cria álibis de todo tipo e despreza abertamente modos diversos de ser e, consequentemente, o próprio ser.
Na verdade, é possível fazer uma crítica e esboçar uma reação contra essa orientação do mundo pós-moderno, não em nome da passividade, do não fazer nada ou da abstração intelectualista, mas em nome da própria ação: mostrando que a sociedade da qual somos parte integrante, no fundo, não sabe quase nada do que significa verdadeiramente a ação. O cristinanismo, e particularmente a missão, exigem da parte do crente um discernimento. Existe um agir sadio e um ativismo que não passa de febre, exaltação, vertigem sem um centro, tanto que, longe de demonstrar uma força, como normalmente se acredita, indica somente impotência e incapacidade de gerir a vida. O empenho na nova evangelização não pode prescindir do silêncio e da contemplação, necessários para poder acolher os outros de modo equilibrado.
Albert Nolan diz que o ativismo desregrado é como o sonambulismo. Mesmo que tenhamos a melhor das intenções e agimos diligentemente pelo bem comum, acabamos nos parecendo a Dom Quixote: combatemos contra moinhos de vento, pois faltam objetivos claros e válidos. A boa vontade não é suficiente! Se, na febre de correr, de ir sempre mais adiante, perdemos as verdadeiras motivações, o risco é grande. Hoje, mais que nunca, devemos encontrar espaços para relaxar, para distinguir as simples atividades das legítimas aspirações da alma. Ademais, hoje se sabe que quem consegue encontrar momentos e espaços de recolhimento acaba liberando uma incrível criatividade.
Para refletir sobre a experiência e buscar intimidade com Deus temos necessidade de fazer a experiência do deserto. Segundo os evangelhos, Jesus, em várias circunstâncias, se retirava em silêncio para rezar diante do Pai, e convidava os apóstolos a fazer o mesmo. Em qual das nossas comunidades paroquiais, com exceção dos espaços de catequese, encontramos tempo e oferecemos percursos para ajudar o povo a rezar? Os adultos lembram as orações tradicionais mais ou menos de memória, mas os jovens frequentemente não conhecem nem mesmo o Pai Nosso... Lamentamos se eles tomam a decisão de buscar outras formas de espiritualidade... Mas o que fizemos de fato para que eles pudessem aprender a rezar? Segundo a minha experiência, posso dizer que realmente existe muita gente sedenta e faminta de Deus.
Para interrogar adequadamente sobre o desejo do Transcendente seria necessário um livro inteiro, talvez uma enciclopédia. Alguns sentem necessidade de cura interior; outros exprimem o desejo de enfrentar a vida de cabeça erquida; outros ainda, sentem a urgência de superar um sentimento de medo, inadequação e desconforto frente às adversidades da existência. Nas últimas décadas, nas chamadas Igrejas de antigo cristianismo, muita gente abandonou sua própria comunidade e voltou-se às religiões orientais. Sem desprezar nenhuma espiritualidade típica deste ou daquele credo, pergunto-me: por que não fomos capazes de partilhar com essa gente a riqueza dos nossos grandes mestres do Espírito, como Santa Catarina de Sena, Santa Teresa D’Ávila, São João da Cruz, Santo Inácio de Loyola?


Seguramente temos ainda muita estrada a percorrer. O que importa é crescer na consciência da presença e proximidade de Deus. Não por acaso, nas suas Confissões, Santo Agostinho, Bispo de Hipona, nos descreveu em linguagem poética sua experiência espiritual, com a inocência de quem encontrou sua “pérola preciosa”: “Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro de mim e eu estava fora, e aí te procurava... Atrapalhado, me lançava sobre a beleza das tuas criaturas. Elas, que não existiriam sem ti, me mantinham longe de ti. Estavas comigo e eu não estava contigo... Mas Tu me chamaste, clamaste e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e curaste a minha cegueira. Espalhaste teu perfume, e eu anelei por ti. Te experimentei, e tenho fome e sede de ti. Me tocaste, e queimo de desejo pela tua paz. 

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