A esperança dança na corda bamba...
A morte,
tanto aquela biológica, no fim dos dias, como a que nos ameaça na angústia e no
estreitamento da vida, é uma dor e uma perda lastimável, questionada inclusive pelas
sagradas escrituras. Cremos na ressurreição, sim, mas ela permanece sempre no
horizonte da fé e da esperança. E, muitas vezes, “a esperança dança na corda
bamba, de sombrinha, e a cada passo dessa linha pode se machucar”, canta o
poeta, recorrendo à metáfora do artista circense.
Expressando
uma situação pessoal e social de extremo limite, o profeta Isaías diz, interrogando
a si mesmo e questionando ao próprio Deus:
Numa situação semelhante, Jó, personagem imaginativo que desafia e
recusa as teologias cínicas que tentam culpabilizar o inocente que sofre, afirma
sua esperança de forma contundente, mas sempre no interior da própria história:
Parece-me mais do que justo desejar vida longa e boa,
reivindicar o direito de proclamar o louvor a Deus nesta vida, contemplar sua
face compassiva e segurar a mão que ele estende para nos levantar do pó. Mesmo
que seja com a pele aos pedaços e em carne viva!
Ancorados nesta esperança, que é experiência no horizonte
da fé, ousamos acolher e abraçar a morte corporal, a das pessoas que amamos e a
nossa, quando vier. Aquele que sempre nos abraçou, não virando o rosto diante
da nossa pele despedaçada e das nossas chagas vivas, vibrando ao ritmo da nossa
ternura e dos nossos sonhos, também nos espera de braços abertos logo ali, do
outro lado, depois do escuro e breve corredor da morte.
Contemplamos o que Jesus de Nazaré acreditou, ensinou e
experimentou. Ele desceu ao assustador barraco
dos mortos sociais e biológicos, irmanou-se àqueles que eram nada, e com
eles, conosco, se reergueu e regenerou. E diz:
“Quem crê em mim,
ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não
morrerá jamais” (Jo 11,25-26).
Como isso se faz e se fará, não sabemos. Mas acreditamos
nele e naquilo que nos promete. Esta é a nossa esperança, mesmo que se
apresente com algumas fraturas,
adquiridas em tantas e ousadas travessias na corda bamba. É isso que cremos e
esperamos. Nada mais que isso. Ou melhor: nada menos que isso!
Itacir Brassiani msf
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