segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Pe. Rodolpho Ceolin msf: um auto-retrato (2)

Pe. Ceolin: um auto-retrato provisório (II)

Neste segundo texto da série, continuo recolhendo e oferecendo alguns retalhos literários que nos ajudam a compor o auto-retrato do Pe. Ceolin. No seu Projeto de Vida do ano 2000, respondendo à pergunta “qual é meu credo?”, ele responde suscintamente: “a) Que fui criado escolhido e abençoado por Deus que me ama desde todo sempre;  b) Minha de que Jesus Cristo é o único Mestre; c) Que a vida de oração é o pulmão e o coração do discípulo e apóstolo; d) Que Projeto Pessoal de Vida obriga ao auto-cultivo persistente, condição indispensável para a convivência fraterna e para servir o povo com amor; e) Que todas as atividades devem ser planejadas e avaliadas, com a ajuda de uma atualizada metodologia, pois as pessoas organizadas avançam mais; f) Que, para tudo isso, é fundamental que se tenha humildade em grau suficiente.”

Antes disso, em 1999, ele escrevia que, entre os princípios dos quais não abria mão estavam a convicção “de que a humildade é condição básica, requisito ‘número um’, para acolher o amor primeiro de Deus, para viver o discipulado, para auto-aceitar-se, para a vivência da comunhão fraternal e servir ao povo de Deus e aos coirmãos com alegria e gratuidade; de que é necessária a re-opção diária pela vida consagrada como Missionário da Sagrada Família”. Percebe-se que o credo que deu sentido à sua vida não continha apenas princípios religiosos: a mística era completada pela ascética, os valores universais eram ajudados pelas opções metodológicas.

Ao compartilhar sua visão de Deus, o Pe. Rodolpho nos oferece uma maravilhosa síntese daquilo que acreditava e pregava: “Vejo Deus como trindade, una no amor e na ação, princípio unificante de todas as diferenças entre as pesoas e integrador da pessoa toda. Na pessoa de Jesus, vejo e sinto que aquele que mais ama, mais simples e humilde se faz, e vice-versa. Jesus é o rosto e o coração amigo e misericordioso do Pai e do amor-ternura do Espírito Santo. Deus é o meu criador e o senhor da minha vida.”

O Pe. Ceolin demonstra clara e lúcida consciência do vínculo intrínseco entre o Deus do Reino e o Reino de Deus, especialmente da dimensão histórico-política do projeto de Deus: “Retenho que o Reino de Deus seja o projeto de Deus, já presente e ainda em construção, a respeito de cada pessoa, da humanidade inteira, do universo todo. É a relação das pessoas humanas na igualdade, independente de sexo, de idade, de cultura e raça. É a derrubada dos ídolos do poder dominador, do acúmulo egoísta de riqueza e do hedonismo coisificante das pessoas. O Reino de Deus é a comunhão fraternal e solidária daqueles que praticam a justiça e respeitam a liberdade alheia. Reino é missão, tarefa de cada pessoa, de toda instituição civil ou religiosa.”

E vejam agora esta bela síntese de antropologia cristã! “Considero ‘pessoa’ quem conseguiu efetuar a integração de si mesmo com as demais pessoas e com as criaturas todas. É ‘humana’ quando consciente, dialogante, comungante, criativa, responsável, simples e humilde. A pessoa humana é perfectível, vocacionada a ser imagem cada vez mais perfeita do criador. Pessoa humana é quem consegue ser protagonista e cooperador do Espirito no seu aperfeiçoamento global. É quem conseguiu também assumir sua corporeidade e integrar sua sexualidade, tornando-se capaz de estabelecer relações sensíveis, próximas e amigas, de cunho respeitoso e vitalizador com seus semelhantes.”

Sua visão pessoal de Igreja e de Vida Religiosa, o Ceolin a resume com as seguintes frases: “Vejo a Igreja como lugar e mediação congregadora dos discípulos de Jesus que buscam viver a vida de comunhão e, consequentemente, a partilha solidária e sua missão neste mundo. Todos quantos são construtores do Reino de Deus também a ela pertencem, embora a ela não se tenham incorporado explicitamente. Vejo a Vida Religiosa como graça e dom de Deus dados a muitos, aos quais um certo número de homens e mulheres dão acolhida e resposta, assumindo o viver casto, pobre e obediente de Jesus, estabelecendo com Deus, pelos votos, uma aliança de amor pública ou em segredo, num instituto aprovado pela Igreja. Vejo a vida religiosa de natureza comunitária como cenáculo no qual o Espírito cultiva e envia ao mundo os discípulos amados de Jesus.” No seu Projeto de 1999 dizia ainda: “O homem e a mulher são templos e moradas da Trindade... É um ser inacabado e, portanto, que necessita da ajuda da graça”.

Falando da Congregação à qual pertencia, o Pe. Ceolin, mais uma vez, explicita sua satifação e sua gratidão por ser Missionário da Sagrada Família. Isso não lhe parecia um acaso, nem um peso, mas uma opção pessoal e uma graça recebida. Em 1999, escrevia: “Os caminhos da Providência levaram-me à Congregação, que eu desconhecia totalmente...”  No Projeto de Vida do ano 2000, diz: “A Congregação dos Missionários da Sagrada Família é minha família de opção. Felizardo me sinto em ser Sagrada Família, pela espiritualidade e carisma que nos são próprios. Nela sei que posso realizar-me como pessoa consagrada, embora seja simples e pequena no grande elenco de institutos de vida consagrada. Até nisso somos Nazaré!...”

Vejamos agora como ele assimilou e expressou o essencial da nossa identidade e missão: “Nosso carisma consiste em evangelizar: levar o anúncio da Boa Notícia de Jesus Cristo e promover a vida abundante, preferencialmente àqueles que estão longe, aos excluídos social e eclesialmente da cidadania e de condições humanamente dignas. Para isso é básico que anunciemos Jesus Cristo, suscitando a nas pessoas e movendo-as a se tornarem solidárias entre si por uma vida em que as relações primem pela justiça e pela fraternidade.”

Finalmente, ele nos brinda também uma síntese aberta da inspiração espiritual da Sagrada Família de Nazaré. "Nossa espiritualidade encontra na Sagrada Família o modelo de viver e de agir segundo a missão e o carisma. A encarnação e a missão expressam e conduzem à vida de comunhão entre nós e com as demais pessoas, meta de nossa missão. Nisto estaremos vivendo na prática o discipulado evangelizador. Para a vivência da nossa espiritualidade encontramos na Sagrada Família algumas atitudes fundamentais, como: a atenciosa escuta do Espírito; o humilde acatamento da vontade de Deus; à proximidade àqueles que mais sofrem, os mais indefesos da sociedade.” Ademais, em 1999 escrevia que faz parte da nossa espiritualidade a “aceitação de si mesmo e de sua história”, a aceitação da Galiléia e de Nazaré, “malvistos e malfalados, ser do segundo ou do terceiro escalão no contexto eclesial”.

Itacir Brassiani msf

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