quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Terceiro Domingo do Advento

Ajustemos o olhar e reconheçamos os sinais do Reino!
A pergunta que João Batista se faz na prisão expressa dúvidas, crises e angústias que nós também conhecemos muito bem: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” Recolhido involuntariamente na solidão da sua cela e recebendo notícias sobre a ação que Jesus começara a desenvolver, o profeta é rondado pela dúvida e pela perplexidade. No ponto de vista do profeta encarcerado, faltavam os sinais do fogo que queimaria os ímpios o do machado que golpearia as árvores estéreis. Um Deus todo-poderoso não poderia demostrar compaixão e paciência...
Mas há uma diferença entre nós e ele: o filho de Zacarias e Isabel ainda esperava a vinda do Messias e a irrupção do Reino de Deus, enquanto que nós situamos este evento no passado. A dúvida de João Batista nasce da grande diversidade de expectativas messiânicas que existia no seu tempo, enquanto que a nossa crise vem frequentemente da falta de sinais de mudança no curso da história, o que suscita a pergunta: a vida, morte e ressurreição de Jesus provocou mesmo alguma mudança? Imagino as perguntas e crises do grande e já saudoso Mandela, durante os 26 anos de prisão...
Mesmo sem negarmos a doutrina do retorno glorioso de Jesus no futuro, a verdade é que não jogamos nisso todas as nossas fichas. Às vezes soa como uma piedosa metáfora o apelo a preparar o coração para que nele Jesus possa nascer de novo. Estou entre os/a que acreditam que o núcleo da nossa fé, o ponto em torno do qual giram os demais elementos, é o reinado de Deus, a transformação radical da do mundo em que vivemos: é isso que esperamos e é em vista de sua realização que empenhamos nossa inteligência, nossa esperança, nosso amor e nossas estratégias.
A resposta de Jesus à pergunta e aos mensageiros de João não é teórica ou doutrinal, mas testemunhal e prática. Nos capítulos anteriores ao episódio que estamos mediatando, Lucas nos brinda com uma série de várias ações simbólicas que Jesus realizara: a cura e reinserção social de um leproso; a visita a casa de um pagão e cura de seu empregado; a cura da sogra de Pedro e muitos outros doentes; o resgate da personalidade de um endemoniado; a cura de um paralítico; as refeições com os publicanos e pecadores; a cura de dois cegos (cf. Lc 8-9).
É por isso que Jesus pode dizer aos discípulos de João Batista: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a boa nova.” Eram sinais que faziam lembrar algumas profeciais que animavam o povo de Israel e eram repetidas pelos profetas e salmos: os olhos dos cegos se abrirão, assim como os ouvidos dos surdos; a língua dos mudos cantará e o aleijado saltará de alegria; rios de água correrão nas estepes e o deserto vai virar jardim (cf. Is 35,5-6; Sl 145/146).
É claro que a constatação de que isso estava acontecendo deveria provocar uma grande alegria. Mas Jesus tem consciência de que sua ação em favor dos marginalizados provoca perplexidade e escândalo. E o próprio João Batista  fica confuso. Mas por quê isso acontece, se a ação de Jesus é tão claramente libertadora? Na verdade, João tinha uma visão um pouco diferente do Messias e da chegada do Reino de Deus: ele esperava um messias que agisse como um juiz e castigador...
Mas, diante da ação libertadora de Jesus, os fariseus não apenas duvidam do seu messianismo, mas também se escandalizam. E nós também precisamos admitir nossa perplexidade. Esperávamos que o Filho de Deus se ocupasse de coisas mais santas e espirituais, que não andasse cercado de gente mal-vista, que atuasse de modo mais espetacular, ou então que fosse mais incisivo, articulado e eficaz, promovendo mudanças estruturais e duradouras. É difícil vislumbrar a realização da nossa utopia social em ações tão simples e cotidianas como as que Jesus realiza.
Deus Pai e Mãe, te bendizemos porque nos chamas a ajustar o olhar para reconhecer os sinais da visita do teu Filho e da nova terra que está sendo gerada. Te bentizemos por Maria e José, pois eles acreditaram na manifestação do teu Verbo na carne frágil do filho que acolheram e educaram pacientemente. Ensina-nos a paciência do agricultor, que sabe respeitar o tempo de germinação e do amadurecimento da semente. Dá-nos a serena firmeza dos profetas que falaram, esperaram e sofreram em teu nome. E ajuda-nos a manter vivos e fecundos os sonhos que compartilhamos com a humanidade, reconhecendo e celebrando os pequenos sinais da sua realização. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf

(Isaías 35,1-10; Salmo 145 (146); Carta de Tiago 5,7-10;  Mateus 11,2-11)

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