domingo, 5 de janeiro de 2014

Pe. Rodolpho Ceolin msf: um auto-retrato (3)

Pe. Ceolin: um auto-retrato provisório (III)

Depois de termos apresentado traços da auto-biografia e da “profissão de fé” do Pe. Ceolin, vamos vislumbrar hoje alguns traços do “auto-retrato” que capta como ele se sentia e se via no início do ano 2000. Falando um pouco a contra-gosto de si mesmo, ele escrevia no seu Projeto de Vida: “Considero-me uma pessoa dotada de boa inteligência, embora já não possua mais uma boa memória. Sou bastante perspicaz, com um bom grau de criatividade e espírito inovador. Adapto-me com facilidade face ao novo. Sou compreensivo e bondoso, e tolerante com as faltas alheias.” Em 1999, registrava ainda: “Um tanto alegre e chistoso, dotado de bastante bondade e compreensão”. Como ler isso escrito pelas suas próprias mãos, sem risco de inflação do ego, mesmo depois que ele nos deixou...

Interrogando-se sobre o que, dentre tudo o que vivia e fazia, lhe proporcionava mais satisfação, o Pe. Ceolin escrevia: “Ser Missionário da Sagrada Família, ter a Sagrada Família como modelo; ajudar, através do misnitério, os penitentes e enfermos a recuperar a alegria, a esperança e a paz; celebrar a eucaristia, vendo-me inserido no mistério do amor de Deus, sendo uma presença de amor, esperança e consolo junto às pessoas mais humildes e carentes; ver os coirmãos unidos entre si e cooperando com a Província; ver os postulantes, noviços e junioristas abraçarem a vida religiosa com firmeza.” Possamos nós encontrar nossa alegria em coisas tão simples quanto importantes...

À pergunta sobre as maiores dificuldades e carências que sentia naquela fase da vida, ele respondia com impressionante e sincera auto-crítica: “Debilidade da minha vontade; uma cerca carência afetiva; inconstância na vida de oração e no cultivo pessoal; uma certa tensão interior, junto com a impaciência e insegurança levam-me a ser taciturno; mania de censurar os outros em público; excesso de moralismo e nagativismo. Vivo bastante insatisfeito comigo mesmo, em razão de alguns defeitos que não consigo corrigir.” A estas dificuldades pessoais ele acrescentava, em 1999, “a dependência do fumo”, “a mania de ser um sabe-tudo” e “atitudes irônicas com as pessoas”. Por fim, registrava: “Venho exercendo o ministério da formação meio a contra-gosto, por considerá-lo desgastante, devido à minha idade e mentalidade”.

Da fato, no ano 2000, já com setenta anos de idade e uma saúde que não era das melhores, o Pe. Rodolpho era responsável pela caminhada formativa dos junioristas e vivia com eles no Bairro Castelarin, em Santo Ângelo, que ele mesmo descrevia como “bairro pobre e de periferia, social e religiosamente muito carente, com grande número de pessoas desempregadas”. E acrescentava: “Em nosso meio, ainda restam sinais e vestígios de violência e marginalidade, outrora assustadoras”. Sobre sua vivência com os junioristas e seus compromissos pastorais, escrevia: “Convivo com doze junioristas, estudantes de teologia. Nossa residência está cercada de famílias pobres e humildes. Envolvo-me bastante pastoralmente com o povo da Igreja matriz, das comunidades dos bairros e do interior da paróquia da Sagrada Família.”

Nesta situação pessoal e social muito concreta, nosso saudoso coirmão apontava aquilo que, na sua própria percepção, deveria “encarar com mais seriedade e método”: “O cultivo pessoal programado e perseverante; o revigoramento da vontade, através de exercícios simples que conheço; intensificar e melhorar a qualidade da oração; manter o cuidado com a saúde e a higiene pessoal; estabelecer ações diárias e concretas de gratuidade.”

Não é bonito e instigante se defrontar com uma pessoa que, nesta idade e depois de ter desempenhado tantas responsabilidades de coordenação, reconhece tão serenamente os próprios limites e carências e se propõe tão humildemente caminhos e práticas concretas que sustentem seu desejado processo de crescimento humano e espiritual?

Itacir Brassiani msf

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