Você acredita que o Reino de Deus está próximo?
Rio S. Francisco - Januaria (MG) |
Jesus começa sua missão depois que lhe chega a notícia da prisão de João
Batista, seu parente profeta. Ele traz ainda muito viva a recente experiência
do encontro com este profeta radical à beira do rio Jordão, a consciência de
ser filho amado e servo dedicado (cf. Mt 3,13-17), assim como a prova das
tentações, antecipação do confronto duro e exigente que marcaria toda sua
missão (cf. Mt 4,1-11). Jesus deixa sua pequena e querida Nazaré e se muda para
para Cafarnaum, às margens do mar, sempre na região da Galiléia. Mas esta mudança de endereço não tem nada de
fortuito!
No passado, a região de Zebulon e Neftali fora palco de uma violenta
deportação. Para Jesus, é lá que se reacende a luz da esperança e ressurge um
canto de alegria. Ele escolhe esta região guiado pelo Espírito de Deus. Não
muda de Nazaré para cidades maiores e importantes como Tiberíades (importante cidade
portuária) ou Séforis (destacado centro cultural). Como cidadão judeu num
território controlado por Roma, Jesus decide continuar morando na margem, junto
à população empobrecida, longe daqueles que colaboram com o império e ao lado
daqueles que lhe resistem.
Com a presença de Jesus, a noite da opressão que envolve os povos se
transfirgura em noite da libertação, a periferia se converte em centro de
renovação, a canga e a vara que encarnam a dominação viram lenha de fogueira.
Gritos e cantos de alegria substituem o clamor de um povo submergido nas
sombras da morte. A razão de tal mudança? Tudo brota do alegre e jubiloso
anúncio de Jesus: “Convertei-vos, pois o
Reino dos Céus está próximo!” O tempo de espera se esgotou! Ele é o enviado
de Deus para desatar o pesado fardo do pecado, jogado às costas do povo.
Mas Jesus não se limita a anunciar
a proximidade do Reino de Deus. Ele faz questão de demonstrar seu dinamismo mediante ações claramente libertadoras.
Segundo o evangelista, Jesus “percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, anunciando
a Boa Nova do Reino e curando toda
espécie de doença e enfermidade do povo.” Ele restaura a integridade física dos
doentes, possibilita a reinserção social dos excluídos, derrota as forças que
oprimem o povo e cura um mundo radicalmente enfermo. Com Jesus e em torno dele
começa uma nova história.
Mas sem envolvimento pessoal na ação não há liberdade que seja digna do
nome. Por isso, além de anunciar e demonstrar a irrupção dos áureos tempos
sonhados, Jesus age chamando
discípulos e associando-os à sua missão. Em torno dele, as pessoas chamadas
formam uma espécie de comunidade
alternativa, centrada na vivência, no anúncio e no serviço ao Reino de Deus,
a libertação radical do ser humano. O chamado de Jesus é uma espécie de
contestação da pretensa imutabilidade da ordem dominante e uma demonstração da
fecundidade da força que vem de Deus.
Os primeiros membros desta comunidade
alternativa são duas duplas de irmãos, quatro galileus marginais que se
ocupavam da pesca. O evangelista ressalta a resposta positiva, imediata e
incondicional do quarteto ao chamado de Jesus. A decisão de seguir Jesus
comporta sempre, além da total confiança nele, um custo social e econômico
considerável, expresso pela mudança de atividade. Os filhos de Zebedeu deixam o
barco e o pai, rompem com os valores da família patriarcal e com a sustentação
do império romano e lançam as bases de uma família
nova e alternativa.
Deus querido, pai e
mãe de uma humanidade ferida e sedenta de vida. Teu Filho iniciou sua missão na
periferia, e continua chamando homens e mulheres pouco influentes mas muito
sonhadores. Faz ressoar em nossos ouvidos, e nos ouvidos de muitos, o convite
que ele não cessa de fazer. Dá-nos liberdade e generosidade para lançarmos as
sementes de uma nova humanidade, prefigurada em famílias abertas e inclusivas e
em comunidades solidárias e totalmente empenhadas na tarefa de conduzir todas
as pessoas e povos à tua única e querida família. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
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