segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Desafios atuais à Vida Religiosa (5)


Desafio 5: Inserir-se com naturalidade na vida e missão da Igreja

A Vida Religiosa nasceu eclesial e encontra na comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus seu ambiente natural, o ecossistema no qual interage com outras formas de vida, dando e recebendo. Somente nos momentos em que esteve gravemente doente, a Vida Religiosa se sentiu e agiu como um mundo à parte, como uma seita especial, como um corpúsculo situado fora ou acima do corpo eclesial. O Vaticano II situa a vida religiosa exatamente no coração da Igreja, como uma espécie de comunidade liminar, cuja missão é expressar o essencial e inegociável do seu ser e da sua missão no mundo.

Como sabemos, a Vida Religiosa nasceu leiga, masculina e feminina, apesar do ambiente eclesiástico masculinizante e do processo de clericalização então em curso. E até hoje, seu lugar não é uma espécie de limbo eclesiástico, entre o clero e os leigos, mas o mundo do povo de Deus, dos leigos e leigas, dos discípulos e discípulas ungidos/as pelo Espírito de Deus. Se hoje a maior parte dos religiosos (masculinos) são presbíteros, deve-se sublinhar que isso não é um componente essencial, mas acidental. Alguns mestres antigos ensinavam que os religiosos devem estar sempre preparados para enfrentar as pressões e tentações, venham elas dos poderes armados ou das luvas e mitras...

Precisamos evitar a tentação de baixar a guarda para que, tanto no âmbito individual como institucional, não caiamos na tentação do isolamento eclesial. Nossos carismas pertencem ao povo de Deus, e são reconhecidos pelas pessoas que na Igreja detém a autoridade. Os carismas não são patrimônio privados dos nossos institutos. Daí a urgência de levantar as cancelas que os interditaram aos leigos e leigas por um tempo longo demais. Daí também a necessidade de inserir nossos projetos e instituições no âmbito das comunidades eclesiais e da missão que elas desempenham no mundo. Sem esquecer que, como dizem Antonieta Potente e Giséle Gómez, acolher um carisma significa aceitar de novo o mistério da encarnação: algo muito grande que se faz pequeno, se esconde nas história e se revela no espaço da precariedade e no cotidiano.

Neste aspecto, um desafio especial é refazer os fios teóricos de uma teologia que define a identidade e a missão da Vida Religiosa no confronto com o clero, discutindo poderes e espaços de independência. A Vida Religiosa faz parte da dimensão carismática da Igreja, é núcleo dinamizador da vocação de toda a Igreja à santidade. Por isso, é também importante e necessário evitar a redefinição da inserção apostólica dos institutos femininos na Igreja local através da simples e perigosa migração da área social ou espiritual para o ministério da animação paroquial, como uma espécie de suplência para a falta presbíteros, cujo crescimento o atual modelo de ministério não deixa vingar. O espaço paroquial já é uma dourada prisão e fator de dupla pertença para os religiosos masculinos, e a vida religiosa feminina precisa se livrar desta arapuca.

Itacir Brassiani msf

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