Desafio 5: Inserir-se com naturalidade na vida e
missão da Igreja
A Vida Religiosa nasceu eclesial e encontra na
comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus seu ambiente natural, o
ecossistema no qual interage com outras formas de vida, dando e recebendo.
Somente nos momentos em que esteve gravemente doente, a Vida Religiosa se
sentiu e agiu como um mundo à parte, como uma seita especial, como um
corpúsculo situado fora ou acima do corpo eclesial. O Vaticano II situa a vida
religiosa exatamente no coração da Igreja, como uma espécie de comunidade
liminar, cuja missão é expressar o essencial e inegociável do seu ser e da sua
missão no mundo.
Como sabemos, a Vida Religiosa nasceu leiga, masculina
e feminina, apesar do ambiente eclesiástico masculinizante e do processo de
clericalização então em curso. E até hoje, seu lugar não é uma espécie de limbo
eclesiástico, entre o clero e os leigos, mas o mundo do povo de Deus, dos
leigos e leigas, dos discípulos e discípulas ungidos/as pelo Espírito de Deus.
Se hoje a maior parte dos religiosos (masculinos) são presbíteros, deve-se
sublinhar que isso não é um componente essencial, mas acidental. Alguns mestres
antigos ensinavam que os religiosos devem estar sempre preparados para
enfrentar as pressões e tentações, venham elas dos poderes armados ou das luvas
e mitras...
Precisamos evitar a tentação de baixar a guarda para
que, tanto no âmbito individual como institucional, não caiamos na tentação do
isolamento eclesial. Nossos carismas pertencem ao povo de Deus, e são
reconhecidos pelas pessoas que na Igreja detém a autoridade. Os carismas não
são patrimônio privados dos nossos institutos. Daí a urgência de levantar as
cancelas que os interditaram aos leigos e leigas por um tempo longo demais. Daí
também a necessidade de inserir nossos projetos e instituições no âmbito das
comunidades eclesiais e da missão que elas desempenham no mundo. Sem
esquecer que, como dizem Antonieta Potente e Giséle Gómez, acolher um carisma
significa aceitar de novo o mistério da encarnação: algo muito grande que se
faz pequeno, se esconde nas história e se revela no espaço da precariedade e no
cotidiano.
Neste aspecto, um desafio especial é
refazer os fios teóricos de uma teologia que define a identidade e a missão da
Vida Religiosa no confronto com o clero, discutindo poderes e espaços de
independência. A Vida Religiosa faz parte da dimensão carismática da Igreja, é
núcleo dinamizador da vocação de toda a Igreja à santidade. Por isso, é também
importante e necessário evitar a redefinição da inserção apostólica dos institutos
femininos na Igreja local através da simples e perigosa migração da área social
ou espiritual para o ministério da animação paroquial, como uma espécie de
suplência para a falta presbíteros, cujo crescimento o atual modelo de
ministério não deixa vingar. O espaço paroquial já é uma dourada prisão e fator
de dupla pertença para os religiosos masculinos, e a vida religiosa feminina
precisa se livrar desta arapuca.
Itacir Brassiani msf
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