segunda-feira, 21 de abril de 2014

90 anos da presença dos MSF em Santo Angelo

Noventa anos de história MSF em Santo Ângelo

Sinal da presença MSF em S. Angelo: construçao da Catedral
Os acontecimentos e personagens do passado nada têm a ver comigo? A partir do momento em que começamos a fazer da história não uma narrativa fria e distante, mas dela nos sentirmos personagens ativos, ela começa a tomar vida, movimento, colorido, e a despertar sentimentos e emoções. E vai tornando-se interessante e atraente.
Transportando-nos à Casa-Mãe de Grave, ver-nos-emos recebendo o abraço de acolhida daquele homem admirável, escolhido por Deus, a oferecer-nos a venturosa possibilidade de sermos Missionários da Sagrada Família. O dia 28 de setembro de 1895 é dia memorável de todo discípulo de Berthier. Treze anos depois, naquela manhã de 16 de outubro de 1908, o nosso coração sobe-nos à garganta ao ouvirmos sobressaltados a notícia: “Notre bon Père est à la mort!... Nosso bom pai agoniza!...” Nesse momento, assumimos os sentimentos e atitudes, quiçá, de um De Lombaerde, dando apoio à cabeça do Fundador agonizante em nossos braços.
Se tais eventos históricos forem considerados parte também da minha e da nossa história, sentir-nos-emos comprometidos e corresonsáveis com a ‘obra’ de Berthier – que é a nossa! – assim como um Josef Carl, primeiro Superior Geral, e como um Anton Maria Trampe, ambos figuras exponenciais da história da Congregação, particularmente para o Brasil e, em especial, para a nossa Província.
A nossa história avança! No dia 8 de janeiro de 1911, às 21h30, aportávamos em Recife, como missionários pioneiros da Congregação enviados ad gentes, “àqueles que estão longe”. Éramos sete: cinco padres e dois irmãos. Nos dois anos seguintes, recebíamos ajuda de outros sete. Veio a grande guerra mundial de 1914 a 1918, e dela somos personagens sofredores, praticamente sem contato com os coirmãos e Superiores de Grave. E eles, por sua vez, sem saberem de nossas malárias e peripécias outras que enfrentávamos na região amazônica.
A tua e a minha história prossegue! O segundo Superior Geral, eleito em 1920, Pe. Anton Maria Trampe, desembarcava no porto de Recife no dia 20 de junho de 1920, para sua primeira visita a nós brasileiros. Enfrentando contratempos de toda ordem, visitou-nos um a um!... Trazía-nos notícias dos coirmãos da Europa, algumas tristes e muitas alvissareiras. Com atenção e emoção, ouvia e registrava nossas experiências missionárias e as injustiças que sofrêramos de autoridades civis e eclesiásticas.
Nossa história está cada vez mais perto de hoje! Com calma bertheriana, em busca de campos vocacionalmente férteis, o Pe. Trampe põe-se em marcha para o Sul, vindo à nossa procura. Passa pela Bahia, pelo Rio de Janeiro, por São Paulo e por Florianópolis. Parece Berthier, de lugar em lugar, buscando um canto para os seus futuros filhos... Penetra no solo gaúcho pelo porto de Rio Grande. Vai a Pelotas, Porto Alegre, Uruguaiana, Santa Maria e... chega a Santo Ângelo. Volta a Porto Alegre cansado e desanimado, para não dizer decepcionado, com determinados antístites da Igreja. Em sua peregrinação penosa, vez por outra chegou a adoecer, precisando acamar-se por alguns dias. São as dores e náuseas da nossa gestação! Está próximo o nascimento dos primeiros bertherianos em terras brasileiras.
Nosso berço, inicialmente, foi Rolante, assumida no mês de fevereiro de 1923. Santo Ângelo, todavia, havia sido o lugar escolhido para acolher nossos vocacionados. Aqui será a nossa Grave! É na terra das missões que serão cultivados os primeiros missionários autóctones! A diocese de Santa Maria dispusera-se a entregar-nos Ijuí ou Ajuricaba. Dom Hermeto, bispo de Uruguaiana, prometera confiar-nos Cerro Largo, mas forças que não nos são ocultas levaram Dom Hermeto a mudar sua decisão. Em troca, ofereceu-nos Santo Ângelo.
Em encontro pessoal, nosso Superior Geral e Dom Hermeto celebraram, no dia 9 de novembro de 1922, o seguinte convênio: “Entre a diocese d Uruguaiana e a Congregação dos Missionários da Sagrada Família, representados pelo bispo diocesano Dom hermeto José Pinheiro e pelo Superior Geral Pe. Anton Maria Trampe, pelo presente convenia-se o seguinte: 1) A entrega da paróquia de Santo Ângelo e São Miguel, pelo espaço de cinco anos; decorrido esse tempo, se o bispo julgar oportuno, será devolvida ao clero diocesano, ou o contrato será renovado; 2) O término do prazo para a entrega é o dia 1° de janeiro de 1923; 3) O excelentíssimo prelado diocesano, pelo presente, autoriza a construir, em lugar de sua escolha, a sua residência canônica, com a respectiva capela. Outrossim, podem os padres em sua residência abrir uma escola apostólica.”
O nosso coirmão Pe. Henrique Ofenhitzer foi o primeiro a chegar em Santo Ângelo. Ele deixou escrito o seguinte: “Aos sete de maio de 1924 cheguei ao meu novo posto e iniciei meu trabalho com as maiores dificuldades.” No corrente ano (1999), pois, completam-se 75 anos de nossa presença na ‘capital das missões’. Há 75 anos muitos de nós nem nascêramos, mas capítulos e capítulos da história de cada membro da nossa Provincia – da sua e da minha história! – já estavam sendo escritos.
Sinal da presença MSF em S. Angelo: Seminario Sagrada Familia
Essa antiga história é parte da nossa história de hoje. Sem aquela, a nossa seria muito diferente, com certeza. Como poderei narrar a minha vida olvidando-me do acontecido e dos personagens que me antecederam? Como pode alguém ler a história do mundo, da salvação, da Igreja, da Congregação, da Província, sem sentir-se parte integrante e nem personagem de toda uma longa história?
Desde que assim venho me posicionando frente à história, sinto que crescem meu amor e meu interesse por Berthier e, em especial, por nossa Província. Meu coração é tomado de gratidão aos coirmãos, de ontem e de hoje, com os quais venho construindo minha biografia. É-me significativo retornar, neste ano de 1999, a Santo Ângelo, exatamente nos 75 anos da nossa vinda para cá. E convido todos os coirmãos a louvarem a Deus e a renderem graças à Sagrada Família pelo evento histórico dos 75 anos de nossa vida missioneira.
Pe. Rodolpho Ceolin msf

(Este texto foi publicado em O Bertheriano, Ano XVII, N° 61, março/1999, p. 3-4. O título foi, obviamente, adaptado)

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