quinta-feira, 24 de abril de 2014

Vivências da Semana-Santa (3)

Matrimônio e família: qual base e qual horizonte?

Os animadores insistiram na importância de aproveitar a semana-sante para oferecer encontros específicos direcionados aos casais. Mesmo com uma certa resistência interior da minha parte – devo entender o por quê! – acertamos dois momentos: uma celebração penitencial por ocasião da missa da terça-feira e um encontro de reflexão na quinta-feira, depois da missa da ceia e do lava-pés.

Para a celebração penitencial da terça-feira, substituí o evangelho do dia pela perícope de Jesus no templo, aos doze anos (Lc 2,41-52). À luz do episódio, destaquei como perspectivas para a revisão de vida: a participação, como família, das tradições religiosas do povo; a confiança dos pais no filho e nos parentes; o empenho dos pais na educação integral dos filhos; a necessidade de os pais ajudarem os filhos a descobrirem sua vocação; os pais também precisam aprender comì os filhos; os filhos aprendem e crescem permanecendo aberto aos pais e afirmando suas raízes populares.

A participação no encontro depois da missa do lava-pés foi uma bela surpresa. A missa se estendera das 19:30 às 21:00 horas. Mesmo assim, em torno de uma centena de pessoas, majoritariamente casais, permaneceram na igreja para esta reflexão. Obviamente, o encontro não poderia ser muito longo, mas a atenção e o envolvimento dos casais me comoveu. Como não frustrar tamanha expectativa e generosidade?

Preparei-me para desenvolver a reflexão voltada ao relacionamento conjugal, à luz da teologia e da espiritualidade da ceia: a aliança e o serviço. Tive o propósito de ser concreto e não perder-me em psicologismos e espiritualismos, mas sem abandonar a perspectiva evangélica. Busquei ajuda em velhas e inspiradas canções do Pe. Zezinho, como “Utopia” e “Estou pensando em Deus”. O simples fato de um padre tocar violão, mesmo precariamente, impressiona e sensibiliza... O resto, a canção e o Espírito se encarregam de fazer.

Desenvolvi a reflexão em torno de alguns eixos: a vida matrimonial é aliança entre duas pessoas diferentes em muitas coisas, mas iguais no valor e na dignidade; à luz da santa ceia e do lava-pés, a aliança implica em hospitalidade, delicadeza e serviço recíprocos; esta aliança corre perigos e é ameaçada por discordâncias, resistências, carências, traições; a prova dos nove da aliança matrimonial é a vida cotidiana – em casa, no trabalho, na carência de meios, com os filhos, pais e sogros – e não os grandes momentos de festa ou comemoração; para ser um projeto viável, a aliança matrimonial precisa buscar inspiração e força na fé, especialmente na aliança de Deus conosco, sacramentalizada na eucaristia e na reconciliação.

Os quarenta minutos do encontro correram apressadamente, e ninguém os viu passar. A maioria voltou para casa com gosto de quero mais. E eu com a clara convicção de que temos nos casais uma terra fértil e generosa a ser semeada com boa semente e cultivada com respeito e apreço. E o povo de Deus não tem o direito de esperar isso de um Missionário da Sagrada Família? “Tudo seria bem melhor se o natal não fosse um dia, se as mães fossem Maria e se os pais fossem José; e se a gente parecesse com Jesus de Nazaré...”

Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: