sexta-feira, 25 de abril de 2014

Vivências da Semana-Santa (4)

Doentes: quem pode contar as dores deles?

A visita aos doentes foi parte importante da agenda preparada pela Comunidade para minha missão na Semana-Santa. Aos poucos fui descobrindo que esta visita faz parte da agenda essencial desta semana especial. Parece que participa diretamente do mistério da paixão e morte de Jesus Cristo.
Visitei em torno de vinte doentes e idosos. Levando em conta o número de habitantes de Vila do Morro, é muito. E isso ainda sem contar os muitos idosos que participam normalmente da Comunidade e o impressionante número de pessoas, especialmente crianças, com algum tipo de deficiência, física ou mental.
A doença e a fragilidade que costumam acompanhar a velhice avançada são experiências muito duras e pesadas para todos, especialmente para aqueles que nos habituamos à autonomia e independência. Mas, quando se situam num contexto de pobreza, miséria e abandono, são quase insuportáveis, podem nos desumanizar quem as sofre e assustar quem as conhece.
Esta é a situação da maioria dos doentes que visitei: idosos, doentes, pobres, solitários. Nesta condição, como esperar que se apresentem limpos, perfumados, arrumados? A situação em que encontrei muitos deles me fez lembrar do Servo Sofredor: “Ele não tinha aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo. Desprezado nDesprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofirmento e experimentado na dor; como indivíduo de quem a gente eaconde o rosto...” (Is 53,2-3).
De fato, vários doentes e idosos que visitei vivem sozinhos, com saudade dos filhos esparramados pelo mundo em busca de sobrevivência. Muitos vivem acompanhados por um neto ou neta, pouco mais que crianças, que parecem ter já incorporado o olhar distante e a melancolia dos seus avós. “Ele cresceu como raiz em terra seca... Por suas feridas é que veio a cura para nós...”
O que significaria para estes irmãos e irmãs “experimentados na dor” a minha visita? Que mensagem passaria se os saudasse de longe, se dissesse apenas algumas palavras de ocasião, recomendadas pelo meu dever de ofício? E como vencer a instintiva barreira que se ergue entre mim e pessoas em estado tão deprimente? E para elas, isso não é ainda mais deprimente?
Senhor, derruba estas barreiras e abre minha mente, meu coração e minha vontade, para que eu me aproxime destas pessoas e seja uma tênue mas real expressão da tua proximidade compassiva, do teu carinho que reanima, do teu toque curador, do teu perdão consolador, do teu abraço regenerador, tanto para eles como para mim.

Itacir Brassiani msf

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