domingo, 27 de abril de 2014

Vivências da Semana-Santa (6)

Missa da unidade: em torno de quem?
Na quinta-feira levantei cedo, como de costume. Pouco depois das 6:00h da manhã fui para a beira da estrada que liga São Francisco a Montes Claros. Esperei os colegas Genivaldo e Germano, que vinham de São Francisco, e segui com eles a Januária. Lá aconteceria a missa da unidade diocesana, a celebração dos santos óleos e a renovação dos compromissos presbiterais. Antes que o relógio assinalasse 8:00h, estávamos, com outros presbíteros, tomando o café da manhã na casa de Dom José Moreira. Lá também, mais tarde, partilharíamos um fraterno e saboroso almoço.
Não obstante ser um dia normal de trabalho, o povo de Januária praticamente lotou a catedral para a missa, que começou às 8:30h. A maioria dos padres – a exceção foram dois colegas MSF e um diocesano – estavam presentes. Isso é muito significativo se levarmos em consideração que alguns padres, para se deslocar de suas paróquias até Januária, devem viajar até cinco horas na ida e cinco horas na volta, percorrendo péssimas estradas. No nosso caso, o tempo gasto não chegava a duas horas para cada trecho. Certamente, este é um esforço que supõe motivação e convicção.
Na missa matutina da quinta-feira santa se cruzam diferentes motivos e focos. O primeiro é a bênção anual dos três óleos (dos catecúmenos, do crisma e dos enfermos), utilizados nas celebrações sacramentais de cada Igreja particular. O segundo, por causa de uma antiga tradição que identifica a missão do presbítero quase que exclusivamente com a eucaristia, é celebrar a “instituição” do “sacerdócio cristão”. E o terceiro, é a celebração da unidade do presbitério, em torno do bispo diocesano.
É claro que dois destes motivos são discutíveis. Primeiro, porque não é correto identificar o ministério presbiteral exclusivamente com os sacrementos ou com a Eucaristia, de modo que não podemos deduzir automaticamente da última ceia de Jesus a instituição da ordem presbiteral. Além de “sacerdote”, o padre é também chamado a ser pastor e profeta! Ademais, é perigoso imaginar que a unidade da Igreja diocesana seja garantida pelo bispo... Qual é o lugar da Palavra de Deus, da Eucaristia e, mais ainda, do Espírito Santo nesta unidade?
Estes questionamentos não impediram que celebrássemos com fé e gratidão este momento, e que renovássemos nosso sincero propósito de servir o povo de Deus como presbíteros, a exemplo de Jesus, o bom pastor. E o fizemos invocando Nossa Senhora das Dores, padroeira da diocese de Januária. “Gerando o amor num mundo de tantos amores, de ilusões sofrimentos e temores, tu és, ó Mãe, excelsa Senhora das Dores. Dá-nos a bênção, Nossa Senhora das Dores! E, fervorosos, cheguem a ti nossos louvores!”
Graça especial para mim foi encontrar dois velhos conhecidos. O primeiro é o padre João Juvêncio Alves Pereira, com quem estudei o primeiro ano de filosofia (1980), fiz o noviciado (1983) e convivi durante o primeiro ano dos estudos do mestrado (1990). Ele passou por momentos muito complicados e hoje é padre diocesano. O outro é o simpático padre Manoel, diocesano que trabalha na paróquia de Maria da Cruz, às margens do Rio São Francisco. Há mais de vinte anos ele está praticamente cego, mas isso não impede que continue animando a pastoral da sua paróquia.
Itacir Brassiani msf

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