Se os profetas se
calarem, as pedras falarão!
Seus
nomes são bem conhecidos: Dorothy Stang, Hélder Câmara, Oscar Romero, Chico
Mendes, Martin Luther King, Pedro Casaldáliga, Erwim Kreutler, Rigoberta
Menchú, entre tantos outros. São herdeiros da mais legítima profecia bíblica.
Com sua ternura, firmeza e coragem marcaram ou marcam profundamente as Igrejas
e a sociedade. Confiados naquele que “cuida de cada cabelo que vamos perdendo
sem mesmo notar” estes irmãos e irmãs não se deixaram amordaçar pelo medo e
proclamam com a própria que é para a
liberdade que Cristo nos libertou.
Testemunhar
Jesus Cristo é algo muito mais profundo do que simplesmente tornar seu nome
conhecido. A missão dos cristãos, inerente à fé em Jesus Cristo, consiste em dar continuidade à sua dupla paixão:
pelo reino do Pai e pela vida dos pobres. E isso significa prosseguir e
alimentar as práticas e os movimentos que resgatam a vida de todos os grupos
oprimidos e questionam as práticas de dominação e de exclusão. A profecia é também e sempre uma ação
transformadora.
É natural
que sintamos medo diante das ameaças e tristeza frente às mentiras e calúnias
que recebemos por causa de um engajamento que brota da intimidade com Deus e do
amor pelo seu povo. Os próprios discípulos e discípulas da primeira hora
provaram o medo, e não é por acaso que, no evangelho deste domingo, Jesus pede
três vezes: “Não tenham medo!” Quem não se vê representado no desabafo de
Jeremias, que chega a amaldiçoar o dia em que nasceu?
O
problema surge quando o medo – que geralmente vem de mãos dadas com o desejo de
uma vida longa e tranquila – coloca viseiras nos olhos, mordaças na boca e correntes
nas mãos, quando o cala a a voz profecia e esteriliza a força da fé. E isso
começa com o simples medo de pensar e de viver diferente do nosso círculo de
amigos e de família, e termina no medo de desagradar ou ser mal visto pelas
autoridades políticas ou eclesiásticas.
A fé é o oposto do medo. Quem
age movido pelo medo faz de tudo para encontrar uma segurança que, para nós
cristãos, é dada gratuitamente por Deus. É estasegurança que faz com que os
profetas e profetizas sejam firmes como pessoas que vêem o invisível. Elas
sabem em quem acreditam, em quem depoistam a confiança. Sabem que é perdendo a
vida que a podem conservar para sempre. Aquele que as chamou é fiel! O próprio
Jesus Cristo as defende.
Jesus nos
ensina a desenvolver esta confiança radical chamando a nossa atenção para os
insignificantes pardais e para os cabelos. Deus cuida até dos pardais e dos
cabelos, quanto mais daqueles que ama e chama! “Vocês valem mais do que muitos
pardais!... Até os vossos cabelos estão contados!” Deus toma conta da vida dos
seus filhos e filhas chamados à profecia porque é pai terno e bondoso, sempre e
já no presente de suas criaturas. Então, medo de quê?
Mais que
consolação intimista, a experiência do coração materno de um Deus que se supera
nas delicadezas pelos frutos do seu ventre é luz que afugenta o medo e força
que sustenta a profecia. Podemos dizer, com São Paulo, que muito mais forte que
as privações e a morte, e mais abundante que nossos pecados, é a graça que Deus
derramou sobre nós. E ainda temos a promessa de que o próprio Jesus será
testemunha de defesa daqueles que dele dão testemunho neste mundo.
Afinal, como
nos ensina Paulo, a fé que nos alimenta e sustenta nossa profecia brota de uma
experiência de ser reconciliado e regenerado por Deus em Jesus Cristo. Vivemos
em paz com Deus e nossa condição é marcada pelo sinal da Vida. O mal e a morte
não nos amedrontam nem dominam. Cristo
venceu as forças destruidoras e desagregadoras e nos resgatou para a liberdade.
Sua força é muito maior que a de Adão, e não há razão para olhar para o mundo e
para o futuro com medo.
Jesus de Nazaré, destemido profeta da
Galiléia: envia testemuhas autênticas da liberdade e da solidariedade. Suscita profetas
que, despertos pela tua Palavra, anunciem com palavras e ações a verdade sobre a
dignidade de todas e de cada criatura; denunciem as estruturas que excluem, mesmo aquelas que se apresentam em meio a
luzes coloridas e fumaça de incenso; que renunciem às ações e contaminadas pelo espetáculo, pela indiferença, pela
violência e pelo medo; que prenunciem,
em seu modo de viver, um mundo em cuja mesa haja lugar para todas as criaturas.
Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Jeremias
20,10-13 * Salmo 68 (69) * Carta aos Romanos 5,12-15 * Mateus 10,26-33)
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