sexta-feira, 20 de junho de 2014

Décimo Segundo Domingo Comum (Ano A - 2014)

Se os profetas se calarem, as pedras falarão!
Seus nomes são bem conhecidos: Dorothy Stang, Hélder Câmara, Oscar Romero, Chico Mendes, Martin Luther King, Pedro Casaldáliga, Erwim Kreutler, Rigoberta Menchú, entre tantos outros. São herdeiros da mais legítima profecia bíblica. Com sua ternura, firmeza e coragem marcaram ou marcam profundamente as Igrejas e a sociedade. Confiados naquele que “cuida de cada cabelo que vamos perdendo sem mesmo notar” estes irmãos e irmãs não se deixaram amordaçar pelo medo e proclamam com a própria que é para a liberdade que Cristo nos libertou.
Testemunhar Jesus Cristo é algo muito mais profundo do que simplesmente tornar seu nome conhecido. A missão dos cristãos, inerente à fé em Jesus Cristo, consiste em dar continuidade à sua dupla paixão: pelo reino do Pai e pela vida dos pobres. E isso significa prosseguir e alimentar as práticas e os movimentos que resgatam a vida de todos os grupos oprimidos e questionam as práticas de dominação e de exclusão. A profecia é também e sempre uma ação transformadora.
É natural que sintamos medo diante das ameaças e tristeza frente às mentiras e calúnias que recebemos por causa de um engajamento que brota da intimidade com Deus e do amor pelo seu povo. Os próprios discípulos e discípulas da primeira hora provaram o medo, e não é por acaso que, no evangelho deste domingo, Jesus pede três vezes: “Não tenham medo!” Quem não se vê representado no desabafo de Jeremias, que chega a amaldiçoar o dia em que nasceu?
O problema surge quando o medo – que geralmente vem de mãos dadas com o desejo de uma vida longa e tranquila – coloca viseiras nos olhos, mordaças na boca e correntes nas mãos, quando o cala a a voz profecia e esteriliza a força da fé. E isso começa com o simples medo de pensar e de viver diferente do nosso círculo de amigos e de família, e termina no medo de desagradar ou ser mal visto pelas autoridades políticas ou eclesiásticas.
A fé é o oposto do medo. Quem age movido pelo medo faz de tudo para encontrar uma segurança que, para nós cristãos, é dada gratuitamente por Deus. É estasegurança que faz com que os profetas e profetizas sejam firmes como pessoas que vêem o invisível. Elas sabem em quem acreditam, em quem depoistam a confiança. Sabem que é perdendo a vida que a podem conservar para sempre. Aquele que as chamou é fiel! O próprio Jesus Cristo as defende.
Jesus nos ensina a desenvolver esta confiança radical chamando a nossa atenção para os insignificantes pardais e para os cabelos. Deus cuida até dos pardais e dos cabelos, quanto mais daqueles que ama e chama! “Vocês valem mais do que muitos pardais!... Até os vossos cabelos estão contados!” Deus toma conta da vida dos seus filhos e filhas chamados à profecia porque é pai terno e bondoso, sempre e já no presente de suas criaturas. Então, medo de quê?
Mais que consolação intimista, a experiência do coração materno de um Deus que se supera nas delicadezas pelos frutos do seu ventre é luz que afugenta o medo e força que sustenta a profecia. Podemos dizer, com São Paulo, que muito mais forte que as privações e a morte, e mais abundante que nossos pecados, é a graça que Deus derramou sobre nós. E ainda temos a promessa de que o próprio Jesus será testemunha de defesa daqueles que dele dão testemunho neste mundo.
Afinal, como nos ensina Paulo, a fé que nos alimenta e sustenta nossa profecia brota de uma experiência de ser reconciliado e regenerado por Deus em Jesus Cristo. Vivemos em paz com Deus e nossa condição é marcada pelo sinal da Vida. O mal e a morte não nos amedrontam nem dominam.  Cristo venceu as forças destruidoras e desagregadoras e nos resgatou para a liberdade. Sua força é muito maior que a de Adão, e não há razão para olhar para o mundo e para o futuro com medo.
Jesus de Nazaré, destemido profeta da Galiléia: envia testemuhas autênticas da liberdade e da solidariedade. Suscita profetas que, despertos pela tua Palavra, anunciem com palavras e ações a verdade sobre a dignidade de todas e de cada criatura; denunciem as estruturas que excluem, mesmo aquelas que se apresentam em meio a luzes coloridas e fumaça de incenso; que renunciem às ações e contaminadas pelo espetáculo, pela indiferença, pela violência e pelo medo; que prenunciem, em seu modo de viver, um mundo em cuja mesa haja lugar para todas as criaturas. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Jeremias 20,10-13 * Salmo 68 (69) * Carta aos Romanos 5,12-15 * Mateus 10,26-33)

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