domingo, 15 de junho de 2014

Fatos & Personagens: Cecília

Silvina Parodi
Uma mulher conta

Vários generais argentinos foram levados a julgamento por causa das façanhas que cometeram nos tempos da ditadura militar.

Silvina Parodi, uma estudante acusada de atividades subversivas por viver protestando e criando caso, foi uma das muitas prisioneiras desaparecidas para sempre.

Cecília, sua melhor amiga, prestou depoimento, diante do tribunal, no ano de 2008. Contou os suplícios que havia sofrido no quartel, e disse que tinha sido ela quem entregou o nome de Silvina, quando não conseguiu mais aguentar as torturas de cada dia e de cada noite.

“Fui eu. Eu levei os verdugos até a casa onde Silvina estava. Eu vi quando ela saiu, aos empurrões, às coronhadas, aos pontapés. Eu escutei ela gritar.”

Na saída do tribunal, alguém se aproximou e perguntou a Cecília, em voz baixa: “E depois de tudo isso, como é que você faz para continuar vivendo?” Ela respondeu, em voz mais baixa ainda: “E quem é que disse que eu estou viva?”


(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012, p. 195)

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