quinta-feira, 26 de junho de 2014

Festa de S. Pedro e S. Paulo (Ano A - 2014)

Eles permaneceram firmes como se vissem o invisível.
Com a festa dos apóstolos Pedro e Paulo estamos fechando este mês cheio de memórias de santos populares. Pedro é o primeiro líder dos cristãos e Paulo é o apóstolo dos povos, mas não podemos esquecer que ambos foram discípulos de Jesus e passaram por crises e dificuldades, provaram a prisão e sofreram o martírio. Eles fazem parte daquela ‘nuvem de testemunhas’ da qual fala a Carta aos Hebreus (12,1): viveram e morreram firmes na fé, como se vissem o invisível (cf. Hb 11,13.27).
A primeira leitura nos lembra que o primeiro Papa foi presidiário! As chaves prometidas por Jesus Cristo não serviram para soltar as algemas ou abrir a porta que prenderam Pedro! Ele estava imerso na penumbra do abandono quando uma luz iluminou a cela, uma mão tocou seu ombro e uma voz ordenou que se levantasse depressa. As algemas que o prendiam caíram no chão, os guardas que vigiavam não viram nada e a porta que separava a cela da cidade se abriram sozinhas...
Depois de ter sido um fariseu zeloso e violento e de ter acumulado muitos méritos e honras por causa disso, Paulo fez a experiência de ser conquistado por Jesus Cristo e, diante do bem supremo desta acolhida gratuita e imerecida, considerou tudo o mais como lixo e déficit na contabilidade da vida (cf. Fil 3,1-14) e se lançou incansavelmente no anúncio desta boa notícia. Por isso foi denunciado, perseguido, encarcerado e finalmente executado.
Ninguém conseguiu colocar sob algemas aquilo que fazia de Paulo um homem livre: a Boa Notícia de Jesus Cristo. “Por ele, eu tenho sofrido até ser acorrentado como um malfeitor. Mas a Palavra de Deus não está acorrentada” (2Tm 2,9). Ele sabia muito bem em quem colocara sua confiança, não se envergonhava de compartilhar a sorte dos encarcerados e pedia que ninguém se envergonhasse dele ou de testemunhar a favor de Jesus Cristo, que também foi preso e condenado (cf. 2Tm 1,8).
Pedro e Paulo eram membros de comunidades cristãs, e o vínculo entre a comunidade dos e seus líderes presos se mostra de um modo comovente no relato dos Atos dos Apóstolos. “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja orava continuamente por ele.” Um pouco antes, quando Pedro e João haviam sido liberados da prisão, a comunidade pedia em oração: “Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem, e concede que teus servos anunciem corajosamente a tua Palavra” (At 4,29).
A comunidade pede coragem, e não tranquilidade. O que as sustenta é o encontro com Deus em Jesus Cristo. No evangelho de hoje, Jesus faz uma pergunta, que é central no terceiro bloco narrativo de Mateus (11,2-16,20): “Quem sou eu para vocês?” E esta é a primeira vez que um discípulo o reconhece e proclama Messias, embora um pouco antes, depois da tempestade acalmada, todos os discípulos haviam proclamado, de joelhos: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (Mt 14,33).
Não esqueçamos que, mesmo sem rejeitar a confissão de Pedro e dos demais discípulos, Jesus chama a si mesmo Filho do Homem, e não  Filho de Deus (cf. Mt 11,19; 12,8; 12,32), acentuando assim seus vínculos com a humanidade. Só quem está aberto e sintonizado com a lógica de Deus pode reconhecer a presença de Deus nas ações e palavras deste filho da humanidade e irmão de todos os seres humanos, e esta é a base sólida sobre a qual Jesus Cristo constrói a comunidade cristã, literalmente, a assembléia dos chamados. “Não foi um ser humano que te revelou isso...”
Crer, confiar, partilhar e anunciar: estes são os verbos essenciais da gramática dos cristãos. Só chega à meta estabelecida quem conjuga estes verbos em todos os tempos, modos e pessoas. Escrevendo a Timóteo desde a cela da prisão, Paulo faz um balanço da sua vida e suas palavras são eloquentes e comoventes: “Chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” Um pouco antes, havia escrito: “Estou suportando também os sofrimentos presentes, mas não me envergonho. Sei em quem acreditei” (2Tm 1,12).
Jesus de Nazaré, filho de Deus e filho da humanidade! A glória dos teus discípulos e santos não vem dos milagres ou das honras e aplausos encomendados, mas do teu Pai, o Deus vivo, e por isso os humildes que os vêm podem se alegrar. Quem te reconhece como Filho de Deus encarnado na humanidade não está livre das dificuldades, mas sabe que “o anjo de Deus acampa em volta dos que o temem”. Por isso, feliz a pessoa que nele crê e espera: viverá firme como quem vê o invisível. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 2,1-11 * Salmo 33 (34) * Segunda Carta a Timóteo 4,6-8.17-18 *Mateus 16,13-19)

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