terça-feira, 17 de junho de 2014

Lembranças de um Amigo

O meu amigo de Cafarnaum

O meu Amigo era daqueles que não conhecem o cansaço.
Ele chegou de sua cidadezinha num dia de setembro, 
quando as pessoas começam a dizer: 
“Parece que está esquentando”.
É quando as flores se abrem e os passarinhos cantam.
Meu amigo tinha trinta anos de vida e de carpinteiro
E deu aos pescadores a impressão de uma nova primavera.
A cidade de Cafarnaum fedia a suor e a peixe podre. 
Somente as prostitutas perfumavam a rua de jasmim e manjerona
Ao passarem as tardes apregoando seu corpo.
Cafarnaum vivia com resignada raiva por estar condenada
Perpetuamente a nunca ser nada.
E lá estavam os doentes, mistura de febre e pó;
Lá estavam os leprosos, mistura de feridas e morte;
Lá estavam os injustos, lá estavam os romanos,
Como ianques odiados, num Vietnã sem bombas.
Quase todos estavam pescando num lago quando,
Num dia de setembro, chegou o meu amigo.
E não foi só falar, não. Foi também demonstrar:
Demonstrar que até o último pobre,
Da mais pobre choupana, 
Trazia nos olhos o sinal dos príncipes
Pois era filho predileto do rei, que se chamava Pai.
Floresceram, então, naquela primavera, as almas:
Houve sol com fartura, andaram os aleijados 
e os presos fizeram arados com seus grilhões
Enquanto carneiros e leões se apaixonavam.
E dessa alegria gratuita, com embriaguez sem ressaca,
Saiu um grupo de amigos que fez um juramento de sangue
Para que o mundo inteiro ficasse contente.
O chefe, Pedro, foi colocado como a pedra base
Que sustenta as vigas e que, por sua vez, sustentam a casa.
Saíram então, pelas ruas de todas as cidades
Anunciando essa boa nova chamada Evangelho.
E como as pessoas ficavam contentes ao se olharem no espelho
E reconhecerem, sem medo, a marca dos príncipes.
Assim começou a Igreja
Como os arautos que passam pelas cidades
Levando a música e a festa,
De manhã, de tarde, sempre.
O Amor nos fez surgir o seu Filho
Originando, assim, o primeiro dia.

(Poema postado pelo Fr. Thiago; desconheço o autor)

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