terça-feira, 17 de junho de 2014

Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor (Ano A - 2014)

O corpo de Cristo é vida partilhada na mesa do mundo

O povo de Israel gostava de lembrar que Deus sempre dá o melhor de si. Ele alimenta o povo peregrino com a melhor farinha produzida pelo trigo e com o melhor mel oferecido pelas abelhas.  Por sua vez, as comunidades cristãs se rejubilam na experiência e no anúncio de que, em Jesus Cristo, Deus assume definitivamente a fragilidade da carne humana. E proclamam que Deus tem corpo feito de carne e sangue, amor e vulnerabilidade, que sua carne é verdadeiro alimento que sacia todas as fomes, e seu sangue é bebida que desaltera todas as sedes.
Aprendemos na catequese e continuamos acreditando que a comunidade cristã é o corpo vivo que tem Cristo como cabeça. Paulo sublinha que somos um corpo porque partilhamos de um único pão, e que, num corpo vivo os membros são solidários: quando um membro sofre, todos os demais sofrem com ele; quando um membro é honrado, os demais participam de sua alegria; e os membros mais frágeis são os que necessitam de maior cuidado e proteção.
A festa do Corpo de Cristo quer nos lembrar enfaticamente que Deus tem um corpo, e que este corpo é o nosso corpo individual, mas principalmente o corpo da comunidade, formado por homens e mulheres que dão o melhor de si pela Igreja, e ainda por pessoas acostumados ao sofrimento e que nem sempre estão em nossas celebrações e festas. O corpo de Deus é este corpo composto de membros livres e diferentes, mas unidos no mesmo espírito, na mesma dor e no mesmo sonho.
Este é um dos sentidos mais profundos da Eucaristia: compartilhar o mesmo pão na mesa eucarística nos compromete a viver a solidariedade e a comunhão com o corpo vivo de Cristo, com todos os membros, sem exceção, começando pelos últimos, aqueles nos quais Jesus disse que estaria presente; beber do mesmo cálice leva a comungar com o sangue de Cristo que circula nas veias daqueles que ele elegeu como irmãos, inclusive com o sangue dos mártires, reconhecidos ou não.
Porém, estamos tão acostumados a participar da missa e ‘receber a comunhão’ que, ouvindo Jesus Cristo dizer que é Ele “o pão vivo que desceu do céu”, fazemos um grande esforço para crer que ele está presente naquela partícula de pão que chamamos hóstia. Nossos olhos teimam em ver somente pão, e então nos esforçamos para ver ali o próprio Cristo. Com isso esquecemos que a primeira e mais decisiva passagem não é do pão para Cristo, mas de Cristo para o pão!
Jesus fala de sua vida em termos de carne e sangue, e estas palavras sublinham, ao mesmo tempo, a concretude de sua vida histórica e a vulnerabilidade que compartilha com todos os seres humanos. Os discípulos acham isso difícil demais... A questão decisiva é reconhecer as ações e opções concretas de Jesus Cristo, sua comunhão solidária com a humanidade sofredora, como algo que motiva e sustenta, como um caminho que vale a pena ser continuado.
Mas para muitas pessoas isso não faz sentido nenhum. Pensam que é irrelevante ou impossível que Deus tenha assumido a carne humana. Isso não as toca, não as alimenta, não mexe com elas. Entretanto, as palavras de Jesus Cristo são claras: “A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida.” O pão do céu se fez carne e terra, se oferece como alimento para aqueles que têm fome e sede de justiça. É a humanidade de Jesus que sacia nossa fome e nossa sede!
Jesus Cristo dá o melhor e tudo de si  para que o mundo tenha vida. É para isso que ele se fez carne e se oferece como verdadeira comida e sangue servido como verdadeira bebida. A Ceia Eucarística que celebramos comunitariamente pretende ser sacramento – sonho e caminho! – de uma vida plena para todos. Por isso, a Eucaristia está longe de ser uma prática religiosa privada e misteriosa, repetida unicamente para cumprir uma lei ou para salvar individualmente a própria a alma.
Deus Pai e Mãe, que nos alimentas com o melhor do trigo e com o mel que sai da rocha. Queremos celebrar a ceia do teu Filho, memória e esperança, com o coração agradecido e com os rins cingidos para o caminho que nos espera. Dá-nos teu Filho, Pão para a vida do mundo! Dá-nos teu Espírito, fogo de comunhão que regenera o mundo na comunhão sustentada pelo dom. Não somos dignos que entres em nossa casa, mas diz uma Palavra e recuperaremos a dignidade e a liberdade, e assim viveremos a verdadeira comunhão. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf

(Deuteronômio 8,2-3.14-16 * Salmo 146 (147 B) * Primeira Carta Aos Coríntios 10,16-17 *João 6,51-58)

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