quinta-feira, 17 de julho de 2014

16° Domingo do Tempo Comum (Ano A - 2014)

A sabedoria da paciência e a seriedade da urgência.
Como a parábola do semeador, as parábolas do trigo e do joio, da semente de mostarda e do fermento estão situadas na parte do evangelho de Mateus que trata do dinamismo do Reino de Deus. Os discípulos se perguntam se o Reino inaugurado por Jesus Cristo é realmente uma boa semente, se tem força e futuro. A experiência deles e nossa é de que, apesar de todos os esforços e bons propósitos, o resultado do nosso empenho generoso é ambivalente, insuficiente e preocupante.
A ambiguidade tem suas raízes nas dimensões inconscientes do ser humano. A oposição faz parte da condição humana e coexiste com as boas iniciativas. Existem forças que se opõem ao processo de libertação, mas so incapazes de impedir seu florescimento. Jesus não se preocupa em pesquisar e debater a origem do mal que contamina as iniciativas e projetos humanos.  Ele simplesmente diz que numa noite, “quando todos dormiam” um adversário semeou joio no meio do trigo.
É interessante destacar que é apenas quando a boa semente do Reino se desenvolve que a presença do mal se faz notar. O mal que se opõe à justiça do Reino não é uma força absoluta, comparável ou superior ao bem: é uma força sempre relativa, identificável no confronto com os valores e práticas de Jesus Cristo e seus discípulos. Ela provoca confusão e nos rouba forças que poderiam ser empenhadas noutras coisas, mas não tem futuro.
O zelo pela casa de Deus às vezes provoca em nós uma santa ira, e nosso desejo é pegar foices e facões e extirpar da sociedade a injustiça e da Igreja a ambiguidade, cortando o mal pela raiz. Esta seria uma solução relativamente fácil se o joio estivesse apenas no nosso exterior, se fôssemos pessoas incorruptíveis, sem ambivalências e sem contradições. Mas o integrismo costuma se mostrar irracional e violento. É preciso ter paciência e esperar que as coisas fiquem mais claras...
Jesus propõe duas outras parábolas, nas quais contrapõe a notável pequenez da semente de mostarda e do fermento ao arbusto frondoso e à massa levedada que produzen. Estas parábolas são uma resposta às perguntas que frequentemente nos fazemos: será que o amor, a ternura e a compaixão não são ações insignificantes, pequenas e demasiadamente frágeis frente à injustiça e à opressão? Teremos que nos contentar em ser sempre uma minoria que age apenas reparam danos?
Para os grandes Roma, de Jerusalém e de todos os centros de poder, a semente e o fermento do Reino de Deus é insignificante e sem futuro. Não faltam aqueles que, em nome da eficácia histórica, propõem uma Igreja mais forte e potente, capaz de medir forças ou negociar com os impérios de plantão. Mas a proposta de Jesus é outra: trata-se de crer na força dos fracos, na fecundidade invencível do amor solidário, no dinamismo revolucionário da profecia e do testemunho.
Mas a pergunta ressurge insistente: isso não foi sempre um romantismo inconsequente? Jesus responde a este questionamento chamando nossa atenção ao mundo doméstico e feminino. Precisamos aprender da ação silenciosa, escondida e demorada do fermento que a cozinheira mistura à farinha. Ninguém ousaria afirmar que a ação do fermento é ineficaz! Mas, para ser eficaz, o fermento do Reino de Deus precisa entrar em contato e perder-se na farinha.
Esta parábola do Reino completa o que naturalmente falta às anteriores. Cada parábola quer evidenciar um aspecto do dinamismo do Reino de Deus. Aquela do trigo e do joio nos chamam à paciência e ao discernimento; a da semente de mostarda nos ensina a confiaça nos meios aparentemente pequenos e frágeis; e a parábola do fermento nos interpela ao engajamento lúcido e transformador, a gastar-se na ação de solapar as bases de impérios que excluem e matam.
Jesus de Nazaré, incansável pregador do Reino de Deus, teimoso construtor de um Novo mundo! Ensina aos teus filhos e às Igrejas que anunciam teu Reino um zelo sábio e respeitoso. Ensina-nos a atuar como o fermento, a “corromper” o tecido social que mantém o reino dos mais fortes, a criar micro-organismos portadores de uma nova ordem social, geradores de novos homens e novas mulheres. Dá-nos a coragem de perdermo-nos na luta, como fermento que transforma a massa, com a força do teu Espírito e da tua Palavra, sem medos, mas também sem integrismos nem totalitarismos. E ajuda-nos a descobrir o infinito e fecundo valor dapequenez, da minoridade.  Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf

(Sabedoria 12,13-19 * Salmo 85 (86) * Carta aos Romanos 8,26-27 * Mateus 13,24-43)

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