segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pe. Rodolpho Ceolin msf

Um discípulo inquieto, um homem a caminho.
Quando recordamos as pessoas que muito amamos, ou que por nós demonstraram muito amor, corremos o risco – ou será que cometemos a gentileza? – de idealizar sua biografia, magnificando os aspectos de bondade e diminuindo as contradições. Ou também podemos cair vítimas dos mecanismos de projeção, atribuindo a elas virtudes que desejaríamos ou imaginamos ter.
Sei que, por causa do grande apreço que tenho por ele, corro estes e outros riscos ao fazer memória do Pe. Rodolpho Ceolin msf. E admito até que o muito que tenho escrito e recordado sobre ele possa revelar uma certa fixação, ou uma relação imatura, infantil. Mas não sei o que seria mais desumanizador: a idealização, a projeção e a dependência ou a indiferença, a frieza e o simples esquecimento.
Já tive a oportunidade de sublinhar que as conhecidas manifestações de nervosismo, de intolerância, de desânimo e até de raiva do Pe. Rodolpho chamavam a atenção porque rompiam com seu modo normal, característico e predominante de ser, que era a bondade, a serenidade e a generosidade. E ele mesmo não escondia o desconforto que experimentava quando perdia o controle e machucava as pessoas.
Neste momento em que completamos um ano da sua partida – ele tinha 83 anos bem vividos mas partiu cedo demais! – quero prestar uma homenagem à sua vigorosa e atribulada biografia destacando duas características do seu modo de ser: ele conseguiu conjugar de um modo muito interessante humildade com iniciativa, e também auto-implicação com engajamento social.
As pessoas humildes são propensas à passividade, até porque a humildade pode vir frequentemente associada à baixa auto-estima e à timidez. O fato de ter ocupado diversas e duradouras responsabilidades à frente da Província não roubaram ao Pe. Ceolin seu jeitão simples e amigo. E esta simplicidade, mais que convidar à acomodação, funcionava como estímulo à criatividade e iniciativas em vista de melhorar o ambiente, a comunidade, a Igreja, a sociedade. Esta capacidade de inciativa era nele tão forte que chegava a parecer inquietação...
A humildade se dá muito bem com a introspecção e o apreço pelo cultivo interior, com a auto-implicação nos processos de reflexão e de mudança. Mas não é muito comum que a implicação do próprio ser vá de mãos dadas com o engajamento intrépido nos processos de transformação social. E nisso o Pe. Ceolin também demonstrou uma certa originalidade. Ele é lembrado por todos como uma pessoa que sempre puxava as reflexões e debates para a dimensão pessoal, mas ninguém esquece também sua forte e profética ênfase na dimensão social da fé.
O Pe. Ceolin não foi um santo – ao menos um santo segundo o modelo mais difundido por certos setores sociais e eclesiais – mas merece ser lembrado por aquilo que foi: um homem sempre a caminho, um discípulo visceralmente inquieto, uma pessoa que buscou incansavelmente a integridade e a serenidade. Louvado seja Deus por ter nos dado este presente!

Itacir Brassiani msf

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