terça-feira, 16 de setembro de 2014

Reflexões do Pe. Ceolin

Ideais sem força
É inegável que da descoberta de valores, mormente quando vividos e experienciados, emanam convicções, certezas e motivações que levam a traçar ideais consistentes e suscitam uma forte mística, capaz de imprimir dinamismo invulgar no ser humano. Os avanços em qualquer dimensão da nossa vida dependem de ideiais fortes, e para estabelecer tais ideais é necessária a descoberta de valores. A eleição e a decisão por determinados valores supõe e requer que estes sejam discernidos com suficiente conhecimento (coleta de informações), com reflexão crítica e com objetividade (valores objetivos), e que sejam significativos para a pessoa (valores subjetivos).
Para buscar, definir e, especialmente, abraçar tais valores é necessário, primeiro: ter a coragem de administrar a própria vida, de ser autônomo (independente) frente ao julgamento alheio; de assumir a responsabilidade pessoal na condução da própria vida e de pagar o preço pelas opções feitas. Em segundo lugar: superar o medo à liberdade, este medo instalado no nosso inconsciente e que pode nos tolher a coragem de assumir valores transcendentes (a entrega de si mesmo a Deus e ao próximo, o amor solidário, etc.) e gerar o medo frente às exigências aparentemente excessivas dos valores e dos compromissos definitivos.
A emancipação e o rompimento com todas as formas de dependência nos comprometem profundamente, exigem a coragem de “ser quem somos”, de assumir a própria identidade, de enterrar posturas de ódio, de superar individualismos, narcisismos e egoísmos, de pôr fim a apegos e dependências que nos dão a falsa sensação de segurança interior e nos levam a evitar a mudança e a conversão.
O fato é que não nascemos livres, mas tornamo-nos livres, somos chamados à liberdade. A liberdade não é apenas um direito de cada pessoa: antes, é uma tarefa, um processo de libertação, de autonomia, de construção de uma personalidade adulta, consciente, emancipada, responsável. Quanto mais livres formos, mais capazes seremos de assumir valores exigentes e de administrar a própria vida segundo os valores eleitos. Tudo isso, porém, é condicionado e ameaçado pelo medo inconsciente à liberdade. Por isso, as opções e ideais de vida podem tornar-se anêmicos, podem perder a força, tornarem-se inconsequentes e inconsistentes, expostos à mercê dos ventos e marés das nossas emoções, das paixões incoscientes.
Seria viável uma vida consagrada sem um ideal forte e maduro? Creio que somente um forte ideal torna possível uma autêntica vida religiosa: uma vida celibatária pobre, casta e obediente; o zelo e o ardor pastoral e a disponibilidade missionária; a presença solidária e a atuação junto aos excluídos; a inserção evangélica como pobre e com os pobres; a dioturna fidelidade ao projeto pessoal e comunitário de vida; a busca e a aceitação de entreajuda fraterna; a vivência do discipulado no seguimento apaixonado de Jesus Cristo.
Quando nossos ideiais não têm ou perdem sua força, nossa vida corre o risco de tornar-se vazia de sentido; passamos a viver sem ânimo, sem brilho nos olhos, sem alegria no rosto; a pastoral se torna cansativa, simples obrigação e ofício; a vida religiosa vira um mar de amargas renúncias, uma frustração existencial; o auto-cultivo e o PV (Projeto de Vida) parecem uma imposição externa, e o PEP (Plano Estratégico da Província) dá a sensação de ser uma intromissão indesejável na nossa vida.
Então, o que fazer para que assim não seja, e para que sejamos pessoas com ideais com grande força, capazes de mover montanhas? O que fazer para recuperar o vigor dos nossos ideais de vida?
Pe. Rodolpho Ceolin msf

(Pelas referências ao PV e ao PEP, assim como o fenômeno da falta de ideiais fortes, estas notas manuscritas parecem ter sido preparadas pelo Pe. Ceolin para a formação dos junioristas, no início da década passada.)

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