quinta-feira, 2 de outubro de 2014

27° DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO A – 05.10.2014)


Não dixemos que nos roubem a alegria da missão!

A Igreja católica tomou consciência de que a missão faz parte do seu código genético, e proclama que esta não é apenas mais uma das suas múltiplas tarefas, nem uma responsabilidade de apenas algumas pessoas. Em 2007, na Conferência de Aparecida, os bispos da América Latina e do Caribe colocaram esta questão no centro das preocupações da Igreja na América Latina e convocaram todos os seus membros a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo. Na sua mensagem para a jornada mundial das missões, o papa Francisco insiste mais uma vez: “a Igreja nasceu em saída.”
Na perspectiva do evangelho de hoje, a missão não consiste propriamente em semear a mensagem do Reino de Deus onde o cristianismo ainda não lançou raízes, mas em ir aos arrendatários da “vinha do Senhor” para recolher os frutos esperados. Como missionários, somos enviados àqueles que foram investidos de autoridade ou ocupam posições de liderança política e religiosa para verificar se realmente se dedicam ao povo. A missão é ir àqueles que se apropriaram da vinha do Senhor. Uma missão que tem uma clara dimensão crítica e profética.
Esta missão é tão urgente quanto difícil e conflituosa. A parábola de Jesus menciona as agressões e espancamentos sofridos pelas pessoas enviadas. Quando os missionários não se contentam em propor doutrinas e celebrar ritos, correm o risco de serem pesssoas indesejáveis e sofrerem violências nas mãos dos ‘malvadamente maus’ ou ‘canalhas’, como diz Mateus. A história remota e recente também registra as calúnias e torturas, as prisões e o martírio sofridos pelos profetas e testemunhas. Em alguns países da África e do Oriente Médio, mas não só, isso continua terrivelmente atual.
Digamos uma vez mais, para que fique claro: a missão como a entendemos hoje não consiste em colher frutos para a instituição eclesial ou multiplicar suas agências, mas em cobrar o estabelecimento do direito de Deus no mundo: a implantação da justiça para os pobres, o reconhecimento da dignidade dos desprezados, a primazia dos últimos, o cuidado e a bondade gratuita a todas as criaturas. Se estes frutos não forem encontrados, o Reino de Deus deve ser subtraído às elites e autoridades constituídas e entregue a pessoas que produzam esses frutos.
Jesus é o missionário enviado pelo Pai, modelo e o caminho a ser seguido por todos os missionários. Ele não se negou a pagar o preço que a missão lhe exigiu: foi caluniado, desprezado, descartado e crucificado. Foi tratado como uma pedra que os pedreiros descartam porque consideram sem valor, inadequada e problemática no seu projeto de sociedade e de mundo. Mas, para ele, isso não se configurou numa tragédia. Pelo contrário, a rejeição acabou nos revelando sua opção pessoal e o princípio norteador da sua vida.
O princípio cardeal da missão de Jesus e dos seus discípulos é ir solidariamente ao encontro dos rejeitados e excluídos para estabelecer, em nome do Pai que os envia, uma primazia e uma dignidade que jamais prescreve. Os grupos humanos e sociais aparentemente problemáticos e disfuncionais são a pedra-de-toque do Reino de Deus. Sem o anúncio de uma Boa Notícia aos pobres e sem a reversão social que coloca os últimos em primeiro lugar, não há Igreja nem missão fiel a Jesus. É daqui que brota a alegria cristã, alegria inerente ao Evangelho, como vem sublinhando o papa Francisco.
E esta é a perspectiva do trabalho missionário: subverter os esquemas, inverter as prioridades, afirmar os excluídos como indispensáveis no projeto de um mundo que se queira humano. É nisso que a Igreja precisa empenhar de forma contínua todos os seus membros, todos os seus esforços e os melhores meios de que dispõe. A missão segue seu caminho de baixo para cima, da periferia para o centro, dos últimos para os primeiros. A parábola da pedra rejeitada, mas recolocada por Deus no centro, é a parábola da missão. Não deixemos que nos roubem essa alegria!
Deus pai e mãe, cuidador e amante apaixonado da tua vinha: continua a suscitar homens e mulheres conscientes da própria fragilidade e da força do teu amor e envia-os para cuidar do teu povo. Que eles não desanimem quando forem tratados como pedras inúteis na construção dos muros. Que eles sintam a companhia inspiradora de Teresinha, André, Ambrósio, Mateus, Francisco e tantos outros. E que esta comunidade que nasce do lado aberto do teu filho empenhe seus melhores membros e meios na missão de testemunhar a comunhão fraterna e de anunciar a boa notícia aos pobres. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Profeta Isaías 5,1-7 * Salmo 79 (80) * Carta aos Filipenses 4,6-9 * Mateus 21,33-43)

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