quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O mistério de Paulo

O mistério que foi revelado

Escrevendo aos cristãos de Éfeso, Pauo fala que com entusiasmo da graça que ele e os demais santos apóstolos e profetas tiveram de conhecer o “mistério de Cristo”. E descreve o conteúdo deste mistério: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa e têm a liberdade de se aproximar de Deus com toda a confiança (cf. Ef 3,2-12).
Mas o que isso significa, concretamente? Significa que o muro teológico e moral que as religiões, culturas  ideologias ergueram para separar crentes e não crentes, praticantes e não praticantes, cumpridores da lei e libertários, perdeu o sentido. Jesus não pratica a lei estritamente, e se mostra libertário, crítico e anárquico, chegando a afirmar que pessoas consideradas modelo de pecado – como as prostitutas e os publicanos – são mais apreciadas por Deus que os fariseus e doutores da lei...
O que Paulo intuiu – e mais tarde os evangelhos, que nasceram no ventre da fé das comunidades cristãs, deixarão claro – é que a humanidade de Jesus e dos seus irmãos e irmãs é o lugar do encontro com Deus, ou seja, do encontro com a liberdade solidária e emancipadora. Infelizmente a maioria de nós nem se dá conta, e muito menos se assusta, com o ensino de Jesus, que não pede que, à espera da sua volta, multipliquemos celebrações e novenas, mas que estejamos à frente – ou aos pés?! – dos nossos irmãos e irmãs para dar-lhes de comer na hora certa. Ou seja: servimos a Deus e resgatamos nossa verdadeira identidade humana no amor agradecido a Deus e no amor solidário e emapncipador aos nossos irmãos.
Nossos amigos e amigas que não chegaram à graça da fé, ou que a perderam por causa da ambiguidade do nosso testemunho, não são necessariamente piores ou mais culpáveis que nós. Se eles se posicionarem ao lado ou aos pés dos seus semelhantes e os servirem nas suas necessidades, encontraram Deus e realizaram sua vocação. Há dois mil anos esse mistério foi desvelado e, graças a Paulo e às primeiras gerações de cristãos, chegou ao nosso conhecimento. E o conhecimento gera responsabilidade. E é de novo o próprio Jesus que nos adverte: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lucas 12,48).
No horizonte do mês missionário, somos convidados a anunciar isso com ênfase e clareza: as divisões caducaram; a pretensa supremacia dos crentes e religiosos perdeu a base; as hierarquias ruíram. A salvação se tornou acessível a todos os povos e culturas, e é encontrada e realizada na compaixão, na misericórdia e na solidariedade. É isso que significa a afirmação de não é pela prática da lei (que separa e hierarquiza) que alcançamos a salvação, mas pela fé em Jesus Cristo (que aproxima e solidariza).

Itacir Brassiani msf

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