segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Vivendo o Advento (1)

Advento: um tempo de abertura, de súplica e de espera.
Uma procissão em Nazaré, Galiléia
Advento significa literalmente "o dia da vinda", e tem origem na antiga liturgia pública romana. Esta liturgia era celebrada na cidade de Roma, preparando o dia em que uma divindade se manifestaria no templo a ela dedicado para visitar seus fiéis no culto. O templo dedicado à divindade abria as portas, uma vez ao ano, no dia determinado para sua visita. A mesma expressão era usada também no âmbito político, e indicava o dia em que um novo imperador assumia o poder.
Assim, a palavra Advento tinha originalmente um sentido tanto religioso quanto político. As comunidades cristãs adotaram esta palavra para indicar o tempo litúrgico que prepara ao Natal, o nascimento de Jesus, a visita do Emmanuel, o Deus conosco. Advento, evento, espera, vinda, são palavras que expressam a tensão ansiosa, a expectativa, a abertura para acolher uma pessoa, uma proposta, um projeto, uma boa notícia.
Maran atha é uma antiga fórmula aramaica que ressoava nas liturgias das primeiras comunidades cristãs (cf. 1Cor 16,22; Fl 4,5; Tg 5,8; Ap 22,20). Pode ser traduzida como "O Senhor vem!" Esta invocação expressava a certeza da sua vinda, alimentava a esperança e sustentava no caminho. Mas quando e como Jesus virá? Como  reconhecer a sua presença na comunidade? Estas interrogações chegam até nós hoje, e entrevemos uma resposta na espiritualidade do tempo litúrgico que chamamos Advento.
O calendário litúrgico de cada acolhe, no mês de dezembro, a tradição do Advento, de um tempo de preparação e espera do Natal. Este calendário compete com o calendário comercial, que, aliás, começa bem antes, com suas luzes brilhantes, suas promoções que se apresentam como boas notícias. Como no tempo do império romano, o sentido político e religioso se mesclam e articulam como suporte ao sistema de dominação. O consumismo e a fé se articulam para anestesiar as consciências com a falsa ilusão de um bem-estar individual e de uma religiosidade superficial.
Proclamando como um refrão a invocação "Maran atha", as primeiras comunidades cristãs souberam encontrar um caminho para celebrar o mistério do Deus que vem ao encontro da humanidade, o mistério da presença do Reino de Deus em Jesus de Nazaré. Que a invocação Maran atha possa ser neste tempo de Advento a nossa prece mais insistente, repetida como um mantra que nos ajuda a penetrar o mistério de um Deus que assume a nossa humanidade para nos visitar; para penetrar o mistério da semente do Reino presente nas pequenas coisas do cotidiano, presente nas pessoas pobres e humildes.
Seja Maran atha" a invocação que oriente nosso olhar na pessoa de Jesus de Nazaré, Emanuel, Deus conosco. Em busca de Jesus de Nazaré, caminhemos com as três grandes figuras bíblicas do Advento: o profeta Isaías, o precursor João Batista, a mãe Maria. As comunidades cristãs relêm as profecias de Isaías para compreender o mistério de Deus revelado em Jesus de Nazaré. João Batista, como novo Elias, vem de novo preparar o caminho, abrir-nos à ação de Deus e preparar-nos acolher seu filho Jesus. Maria, a mãe, nos recorda que sem gravidez não há nascimento.
Vamos a Nazaré para nos encontrar com Maria, José e a comunidade expectante da humilde sinagoga.
O que importa é abrir portas, trilhar caminhos, esperar apressando a hora que não nos permite esperar.
Se, ao invés de um Deus onipresente, encontrarmos apenas o vazio fecundo de uma busca e de uma espera,
não pensemos ter errado o caminho!
Deus-Conosco é esperança nos sonhadores, é promessa nos profetas,
não se apresenta nos palácios e nas passeatas dos vitoriosos e saciados.
Ele é utopia que nos colaca a caminho e nos leva para além de nós mesmos e das nossas desilusões.
Coloquemo-nos a caminho!
Vamos à busca, sem incertezas nem medos, semeadores e semeadoras de esperança.

Texto publicado pelo CEBI, adaptado por Itacir Brassiani msf 

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