PAPO COM DILMA
A presidente
recebeu, a 26 de novembro, representantes do Grupo Emaús que, há 40 anos,
articula, no Brasil, a teologia da libertação e as ferramentas pastorais que a
tornam realidade na esfera eclesial.
Acolheu-nos no
Planalto por mais de uma hora, em companhia de Aloísio Mercadante, chefe da
Casa Civil. Dilma demonstrava muito bom humor e abertura às nossas críticas e
sugestões.
Entregamos a
ela carta assinada por 34 participantes do Emaús, entre os quais teólogos(as),
sociólogos(as), educadores e militantes de movimentos pastorais.
Manifestamos
nossa proposta para seu segundo mandato, em texto intitulado “O Brasil que
queremos”: reforma política (para a qual nos pediu sugestões); modelo econômico
mais social e popular; auditoria da dívida pública; reavaliação dos
megaprojetos à luz de critérios ambientais e sociais; defesa dos direitos de
povos indígenas e quilombolas; restrição do uso de transgênicos e agrotóxicos.
Insistimos nas
reformas de que o país tanto necessita, sobretudo agrária, urbana e tributária.
Sugerimos nova política de segurança pública e reforma prisional; a
democratização dos meios de comunicação; e a universalização dos direitos
humanos com respeito à diversidade.
Consideramos
importante a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais; a
reapresentação do projeto de Participação Social; e o rigoroso combate à
corrupção. (A íntegra da carta se encontra em meu site: www.freibetto.org).
Enfatizamos a
importância do diálogo permanente com os movimentos sociais e, em especial, com
os jovens. Ela, imediatamente, cuidou de agendar tal sugestão. Criticamos
também o sistema de comunicação do governo e insistimos na valorização dos
centros de referência em direitos humanos e na política de proteção ambiental.
Dilma não
apenas agradeceu as nossas críticas e sugestões, como abriu canais para que se
tornem frequentes.
Fiquei com a
impressão de que a presidente não dispõe de muitos interlocutores críticos. O
poder costuma inibir aqueles que buscam tirar proveito pessoal, como manter a
função e a suposta boa impressão, e preferem não correr o risco de serem mal
acolhidos. Cria-se assim um círculo vicioso: a presidente escuta de muitos que
a cercam apenas elogios, e fica desinformada quanto a avaliações críticas
pertinentes.
Ao final da
audiência, ela externou o fascínio pelo homem que, hoje, ocupa o seu coração: o
papa Francisco. Relatou os encontros que tiveram e as conversas descontraídas,
concordando que ele é, atualmente, o mais importante líder mundial, capaz de
estender pontes (daí o termo pontífice) entre regiões, países e Estados em
conflitos.
À saída da
sala presidencial, encontrei Robson Andrade, presidente da Confederação
Nacional da Indústria e amigo de longa data. Em seguida, ele seria recebido por
Dilma. Brinquei: “Robson, já tratamos com a presidente dos direitos dos
trabalhadores. Agora é a sua vez de falar dos interesses dos patrões...”
Frei Betto
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