terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Insatisfaçoes com o Papa Francisco

Cinzas sobre Brasas: a incapacidade de acolher o dom do Espírito

O pontificado de Francisco continua a provocar dificuldades e tensões em setores da igreja católica. Mais uma vez observamos a presença crítica de Vittorio Messori no Jornal Italiano Corriere della Sera, na véspera de natal (24/12/2014), lançando suas críticas ao papa Francisco. Tudo feito de forma bem programada, evitando ataques mais diretos, mas destilando suspeição sobre a ação pastoral de Francisco. Fiquei impressionado com esse artigo: “I dubbi sulla svolta di Papa Francesco”. Messori, sublinha que sua avaliação do pontificado titubeia entre a adesão e a perplexidade. Mas é claro que prevalece a PERPLEXIDADE. O que a ele mais causa espanto em Francisco é o que chama de IMPREVISIBILIDADE.
A seu ver, são as surpresas de Francisco que continuam “perturbando a tranquilidade do católico médio” (sic!). Para Messori, esse católico – a seu ver – estaria mais estabilizado com uma imagem mais tradicional de papa, e Francisco surpreende... Entre as reflexões de Francisco que provocam escândalo no colunista, a ideia expressa na entrevista com Eugenio Scalfari a respeito de Deus: “Eu creio em Deus. Não num Deus católico, não existe um Deus católico, existe Deus”. Para Messori, trata-se algo que não combina com a imagem sagrada da Ecclesia una, sancta, apostólica, romana. E ironiza a perspectiva mais aberta acenada por Francisco. E destila sua ironia: “Como se a Igreja una, santa, católica, apostólica, romana fosse algo opcional, como um acessório que se pudesse ligar ou não, segundo um gosto pessoal”. Como em outras vezes, o que mais irrita Messori em Francisco é o que identifica com um certo “populismo”, que capta um vasto interesse mas que se revela superficial e efêmero...

Reagindo ao texto de Messori, Leonardo Boff acaba de escrever, em 28/12/2014, uma resposta firme, com a intenção de publicá-la no mesmo periódico italiano: “Appogio ao Papa Francesco contro un scrittore nostálgico”. Daí ter saído o texto em italiano, antes mesmo de sua edição brasileira. O objetivo de Boff é reagir às oposições a Francisco que vão se firmando em muitos lugares. São reações críticas ao seu modo de agir pastoral, aberto, ecumênico e sintonizado com a causa dos pobres. Quem são esses “católicos médios” que se sentem abalados com a ação pastoral de Francisco? Responde Boff: “São, geralmente, católicos culturais habituados à figura faraônica de um Papa com todos os símbolos do poder dos imperadores pagãos romanos. E agora aparece um Papa ´franciscano` que ama os pobres, que não veste ´Prada`, que faz uma dura crítica ao sistema que produz miséria em grande parte do mundo, que abre a Igreja não só aos católicos, mas a todos aqueles que levam o nome de ´homens e mulheres`, sem que sejam julgados, mas acolhendo-os no espírito da ´revolução da ternura`”.

Para Boff, o artigo de Messori vem como encomenda de grupos críticos a Francisco, e ele se faz porta-voz desses segmentos nostálgicos. Boff sinaliza que leu o artigo de Messori com tristeza, e com a infelicidade de ser publicado na véspera do Natal. Sublinha três insuficiências no artigo de Messori, duas de natureza teológica e uma de compreensão da igreja do terceiro mundo. No âmbito teológico, a dificuldade de encontrar lugar para o Espírito Santo na igreja, aquele que vem identificado com “a fantasia de Deus”. Quando Messori reage à “imprevisibilidade” do papa, na base está uma dificuldade teológica de acolher o dom do Espírito. A igreja, sublinha Boff, deve estar sempre aberta à “irrupção do Espírito”. Outra dificuldade importante vem identificada por Boff com a dificuldade de Messori entender e captar a novidade eclesial que acompanha a emergência de uma igreja que respira os ares do Terceiro Mundo. Francisco ecoa uma perspectiva eclesial nova, de igrejas-fonte, com seus mártires, confessores e teólogos.

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