quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Palavras de salvaçao (13)

Eis que chegamos à novena que antecede o Natal de Jesus. “Alegrem-se os céus e exulte a terra, porque o Senhor nosso Deus virá e terá compaixão dos pequeninos” (Is 49,13). Jacó, o patriarca que enganou Esaú, seu irmão de sangue, para ficar com o privilégio da primogenitura, eleva o olhar e visualiza o futuro: imagina seu povo, historicamente minoritário, frágil e oprimido, firmemente estabelecido na liberdade, livre de ameaças, solidário e soberano. E o faz recorrendo a imagens próprias da monarquia. A comunidade de Mateus, por sua vez, tendo presente a vida e a morte de Jesus já transcorridas, convida os cristãos a olhar para trás. Por trás do martelante refrão “fulano gerou sicrano” está a firme convicção de que, em Jesus de Nazaré, Deus assume a condição humana até as últimas consequências. Deus não desce ao mundo de pára-quedas; ele está presente no DNA que sustenta e dinamiza a vida humana, e nada rejeita da sua condição histórica. Mais ainda: assume sem receio entre seus antepassados homens de vida ambivalente; assume inclusive como pertencentes à sua família, sem dar a mínima para os calafrios dos puristas e moralistas, mulheres excluídas e marginalizadas como a estrangeira Tamar, a prostituta Raab, a pagã Rute a mulher que o rei Davi roubou do soldado Urias. Em Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, Deus assume as peripécias humanas presentes na construção dos diversos povos, nos sofridos exílios e nos indestrutíveis sonhos de liberdade e solidariedade. Mas, mesmo enraizando-se na humanidade profunda, Deus não se submete aos nossos desejos e manias de poder, e rompe com o patriarcalismo ao dispensar a concorrência do macho e patrão no nascimento de Jesus. A genealogia, centrada na figura do pai e chefe, acaba virando pó diante da nota que diz: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo” (Mt 1,16). Onde foi parar o papel gerador central do patriarca? Esta é uma das faces mais impressionantes da Boa Notícia do Natal: Deus derruba os poderosos dos seus tronos e celebra a dignidade dos humilhados... acolhamos, pois, com alegria, o anúncio do profeta Ageu: “Eis que vem o desejado de todas as nações: ele encherá de glória a casa do Senhor” (2,8). (Itacir Brassiani msf)

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