“Ao anúncio do anjo, a Virgem acolheu o vosso Verbo
inefável, e como habitação da divindade, foi inundada pela luz do Espírito
Santo. Pai, que a seu exemplo, abracemos humildademente a vossa vontade!” Para
não abandonar sua aposta na aliança com os poderosos, o rei Acaz finge piedade
e diz que não pede um sinal do socorro de Deus para não tentá-lo. Na verdade, o
que ele não quer é mudar suas convicções e interesses. É sempre a mesma
tentação que ronda os que governam, inclusive os da esquerda: confiar mais na
aliança com os poderes e partidos tradicionais que nos vínculos com o povo.
Será que a dúvida inicial de Maria não viria também dessa mentalidade? Mas ela
muda e acaba confiando mais da sombra incontrolável do Espírito Santo que na
segurança da Lei, do Templo e do Império. Ela cresce na convicção de que Deus
está com ela, que o povo encontra graça aos olhos de Deus e, dele, recebe a capacidade
para gerar realidades novas. Descobre que, na sua ação regeneradora e
libertadora, Deus prescinde da licença do patriarcalismo. Deus vem às
periferias, à perdida vila de Nazaré, como visitara também a casa de Zacarias e
retirara o manto da humilhação que escondia Isabel. Se vivesse, Acaz poderia
acolher e entender o sinal de Deus: uma estéril no sexto mês de gravidez e uma
virgem concebendo um filho sem a submissão a um macho e senhor. Aprendamos nós,
pois é em vista de nós que os evangelhos foram escritos. Como Maria e a
multidão de testemunhas que a precedem, cercam e sucedem, apresentemo-nos de
mãos e corações abertos: “Eis aqui a Servidora do Senhor. Que em mim se realize
sua Vontade, e sua Palavra se faça realidade!” Que a Sombra do Espírito nos
envolva, e sua Luz faça brilhar nossos olhos. E que nosso caminho seja reto, e
se não o for, que as curvas sejam para chegar mais perto dos humildes, e os
buracos sejam para retardar nosso passo e caminharmos ao ritmo dos pequenos. E,
assim, chegaremos juntos, muitos, à gruta de Belém, mesmo sem presentes nas
mãos. Levemos, generosos, nosso olhar... (Itacir
Brassiani msf)
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