sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Reflexoes do Pe. Ceolin

Exigências concretas do amor evangélico


Amar é adaptar-se, mudar.
A falta de adaptação gera angústia, repressão. Em nosso modo de agir, arestas pontiagudas e constantes podem estar voltadas para o nosso irmão. Arestas do nosso egoísmo, inveja, ciúme, ódio, competição, dominação, etc.  Para suavizar estas arestas, é mister adaptar-se aos irmãos, pôr-se de igual para igual, deixar-se questionar por eles.
É esta a atitude adulta, madura. A criança é inadaptada. Não satisfeita em seus caprichos, chora, esperneia, atira-se ao chão, agride... E nós, tornamo-noss mal-humorados, deprimidos, amargurados. Por quê?
Uma verdadeira vida de comunidade transforma o irmão. “Como fulano mudou!...” Afirmações como essa comprovam que não só ele mudou: a fraternidade também.
Amar é respeitar-se uns aos outros.
A falta de respeito chama-se vulgarmente intriga, crítica, murmuração. Na comunidade, estas são coisas que envenenam a atmosfera. Em tal clima, ninguém confia em ninguém. Não se fala com sinceridade. Vive-se na defensiva. Quando não sabemos construir, compensamo-nos destruindo.
Amar é não julgar. Amar é não condenar. São Francisco recomendava aos seus irmãos: “Respeitem-se com silêncio!” É necessário criar uma espécie de culto ao silêncio, no sentido de não falar mal, de guardar silêncio sagrado sobre as confidências, os defeitos e a singularidade dos irmãos.
Feliz a comunidade que tem ao menos uma ou duas pessoas amadurecidas, a quem se pode confidenciar tudo, seguros de que elas tudo guardam a sete chaves, e vão à sepultura com elas... Em vez de ser um condenador, é bem melhor ser um bom condecorador.
Amar é aceitar e compreender o outro.
Isso significa assumir, elevar e redimir o irmão. O “outro” é-nos um desconhecido. Estamos sempre diante do mistério do irmão. E mistério não se discute: aceita-se, contempla-se, admira-se, adora-se!
Pode ser que exista um irmão difícil, mas isso não significa que ele seja mau. Amar é perdoar gratuitamente. E é também agradecer.
Aceitar é sair de si, colocar-se no lugar do irmão, dentro dele, vê-lo a partir dele mesmo. É considerá-lo como um presente de Deus, abrir-se a ele em forma de serviço, atenção, estima, estímulo. É admiti-lo como alguém diferente de mim.
Amar é acolher e comunicar.
Acolher é abrir no meu íntimo um espaço, um lugar para o irmão, inclusive para o irmão antipático. É abrir as portas da intimidade, franquear as portas que dão entrada ao meu próprio santuário.
Comunicar é abrirmos as portas interiores uns para os outros, é acolher-se reciprocamente. Daí nasce a confiança e, depois, a alegria fraterna, sinal evidente de uma real fraternidade. A comunicação profunda, os encontros existenciais, as relações interpessoais, sempre vão muito além das palavras.
Amar é deixar-se amar.
Quantos de nós temos medo de ser amados?! A timidez vem do complexo de inferioridade, da insegurança, dos bloqueios emocionais gerados por experiências de frustração. É preciso entender e ajudar as pessoas tímidas, sem achatá-las ainda mais.
Por sentir-se fraca, a pessoa complexada pode tornar-se autoritária e escudar-se na autoridade, e até assumir postura segura e decisões inflexíveis. E sempre se defender, mesmo através da manipulação.
Amar é formar uma família.
Só serve para a Vida Religiosa quem é capaz de construir um lar feliz, quem serve para o matrimônio; e vice-versa! Quem não sabe amar não serve nem para uma nem para a outra.
Ninguém vive sem família. Deixamos a nossa família de sangue... Já constituímos nossa nova família? Ou só temos uma família jurídica? Nossa comunidade, nossa Congergação é nossa nova família? Se não for, por quê ainda não o é?
No matrimônio casam-se duas interioridades que se projetam uma para a outra, e o resultado é a intimidade. Onde, em vez de suas interioridades, forem cinco ou dez, todas saindo de si e projetando-se mutuamente, o resultado é a fraternidade. Esta é como uma nova criatura, que nasce da fecundidade do amor, da mútua doação. E então estaremos num lar feliz...
Amar é simplesmente amar.
Isso significa, ter um coração afetuoso no trato com os irmãos (cf. Rm 12,9-10), ser amável, bondoso, carinhoso. Por quê algumas pessoas, com o passar do tempo, vão se tornando arredias e até agressivas e azedas?
O amor cura, liberta, plenifica. Faltando o amor, o que vem é a morte! Para amadurecer, a fruta necessita do calor do sol; os filhotes de aves, precisam do calor da mãe. E nós?! Por quê será que, no fim da vida, São João só pregava o amor?!

Pe. Rodolpho Ceolin msf

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