sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO (ANO B – 07.12.2014)

Mudar de mentalidade, derrubar muros, abrir estradas!
Vivemos a primeira semana do Advento sob o signo da vigilância: alegre e inteligente expectativa de que algo de bom está sendo gerado; olhos abertos e coração desperto para perceber os sinais daquele que está sempre vindo e daquilo que está nascendo. A segunda semana se abre solicitando-nos conversão e engajamento: ações que tragam consolação aos desolados; abertura de estradas onde a vida é difícil; perseverança quando os novos céus e a nova terra demoram a aparecer; ternura, como a do pastor que carrega no colo os cordeirinhos e guia mansamente as ovelhas que amamentam.
Os caminhos da justiça e da paz ainda são tortuosos e esburacados, especialmente para os países e as pessoas pobres. O obstáculo não está apenas no terrorismo, mas também no cassino da rua do muro (Wall Street) onde se compra, vende e especula a vida e a morte dos povos. O evangelista Marcos diz que o povo que vivia no ‘centro do mundo’ (Jerusalém) se deslocou à periferia (deserto) para escutar o profeta João. E este é o rumo que precisamos seguir se quisermos que a humanidade tenha futuro. As soluções impostas de cima e dos centros costumam ignorar ou aumentar o nada dos já sem-nada.
A Palavra de Deus teima em afirmar que é do deserto e da periferia que vêm as notícias alegres (Boa Nova), aquelas que anunciam que o Humano está nascendo e que um Outro Mundo está sendo gerado. Mas isso pede inversão de perspectiva e conversão da mentalidade. A novidade que vem do deserto é peregrina e vulnerável, não se realiza ações potentes nem chama a atenção. O agente de Deus (Messias) nasce migrante e se hospeda na estrebaria... Seus pés não conhecem o ruído das botas dos soldados, mas somente a ágil simplicidade das sandálias. O amor só tem a força do dom e do martírio.
João Batista tinha consciência de que ele era apenas o precursor, de que o chamado à conversão seria seguido pelo anúncio de uma boa notícia, e que o retiro no deserto seria substituído pela estrada que leva aos povoados. “Depois de mim vai chegar alguém mais forte que eu. Eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias...” Sandálias lembram caminho, e caminho sugere discipulado. A estrada a ser aberta no deserto é a estrada do seguimento de Jesus na pobreza, no dom de si e na solidariedade. É a estrada que leva a Belém e a Nazaré, e desemboca no calvário.
Que ninguém queira substituir as sandálias do carpinteiro pelas botas dos soldados arrogantes ou do gordo papai-noel! Seguimento de Jesus não rima com guerra nem com shoping. Conservar as sandálias e abrir caminhos é preciso!... Mas até quando conseguiremos manter viva essa convicção e essa esperança? A realidade parece desmentir o que acreditamos, e a história parece não considerar nossas utopias. Que São Pedro nos emcoraje! “Para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos é como um dia”. Deus é paciente, mas nossa espera precisa ser conjugada com o incansável empenho.
O discípulo não encontra segurança senão na voz do Mestre, e o missionário só pode contar com o poder da Palavra. É com isso que queremos realmente trabalhar? É essa a estrada quenos dispomos a abrir e trilhar? Recorrendo à linguagem apocalíptica, Pedro chama a atenção para a provisioridade do tempo e para a precariedade das instituições; tudo o que parece sólido e definitivo se transformará em ruínas e cinzas. Em meio a isso, os cristãos se mantêm firmes na esperança de novos céus e nova terra nova, onde habite a Justiça. Mas precisam antecipar esta esperança em suas ações cotidianas...
Ou seja, precisamos nos manter firmes e ativos na esperança. Jesus, Maria e José também viveram pacientemente a aparante demora da manifestação de Deus. A espera se converteu em preparação e discernimento para acolher a ‘hora’ de Deus. Enquanto esperavam, lançaram raízes na periferia, mergulharam fundo na Palavra de Deus, exercitaram generosamente o cuidado com os cordeiros fracos e com as ovelhas gestantes. E fabricaram sandálias, muitas sandálias: sandálias para pés masculinos, femininos, infantis e jovens, adultos e idosos, brancos e negros, católicos ou não...
Deus pai e mãe, pastor terno e dedicado! Fecunda nossos ouvidos com tua Palavra criadora e abre nossos lábios para que proclamemos, sem medo, que estás vindo à casa nossa e tua, e que  trazes nos braços teus filhos e filhas mais queridos. Converte nosso coração e abre nossos olhos, para que sejamos capazes de contemplar a delicada coreografia cósmica que acompanha tua chegada aos desertos e periferias: a verdade brotando da terra e a justiça se inclinando do céu; a misericórdia e a verdade dançando e a justiça e a paz se abraçando. E põe nos  nossos pés as sandálias do teu Filho! Assim seja! Amém!
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Itacir Brassiani msf
(Isaías 40,1-5.9-11 * Salmo 84 (85) * Primeira Carta de Pedro 3,8-14 * Marcos 1,1-8)

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